CADA TEMPO EM SEU LUGAR

fotos: daryan dornelles
São Paulo, 2008. Enquanto Romulo Fróes se encaminhava para seu terceiro álbum e Juçara Marçal iniciava sua parceira com Kiko Dinucci, Pipo Pegoraro lançava de forma independente seu primeiro disco solo, Intro. Na mesma época, Thiago Pethit estreava com seu EP Em outro lugar (independente) e Curumin lançava seu segundo álbum, Japan pop show (Urban Jungle). Faltava bem pouco para que críticos e jornalistas de todo o país voltassem a sua atenção para a produção musical da cidade, fato que ocorreu em 2010, com a excelente acolhida dos álbuns de estreia de Karina Buhr (Eu menti para você, independente), Marcelo Jeneci (Feito para acabar, Slap/Som Livre) e Tulipa Ruiz (Efêmera, YB Music). Bastante receptiva aos novos artistas e seus trabalhos autorais, São Paulo passou a fomentar, no decorrer dos últimos anos, uma das cenas musicais mais prolíferas e criativas do Brasil.

É a respeito dessa movimentação que conversamos com Pipo Pegoraro. Figura bastante ativa no cenário paulistano, o músico lançou seu segundo álbum, Taxi Imã (YB Music), em 2011, produzido pelo cantor e compositor Bruno Morais. No ano seguinte, trabalhou na produção da música “Eva e eu", interpretada por Anelis e Serena Assumpção para o disco tributo a Péricles Cavalcanti, Mulheres de Péricles (Joia Moderna). Ainda em 2012, passou a integrar o coletivo Aláfia, lançando álbum homônimo no ano seguinte pela YB Music. Em 2013, produziu duas faixas para o cantor Filipe Catto: “Meu amor me agarra & geme & treme & chora & mata”, de Capinan e Jards Macalé, para o disco E volto pra curtir (Banda Desenhada Records); e “Flor da idade”, de Chico Buarque, para a trilha sonora da novela Jóia Rara, da TV Globo. Além de participar como músico e arranjador do programa Cantoras do Brasil, do Canal Brasil, Pipo também é responsável por diversas trilhas sonoras de documentários e espetáculos de dança.

Conversamos com o músico algumas semanas antes do lançamento de seu terceiro disco, Mergulhar mergulhei (YB Music). Com direção artística de Romulo Fróes e contando com a participação de Xênia França, Luz Marina e Filipe Catto, o álbum foi recentemente disponibilizado para download gratuito e teve, há poucos dias, seu show de lançamento na Choperia do Sesc Pompeia (SP).

Nosso encontro se deu em uma das vindas de Pipo ao Rio, em um restaurante no bairro do Leme, onde falamos a respeito de sua carreira, o novo trabalho, influências e a cena paulistana.

BD — Boa parte da cena paulistana da qual você faz parte já está a caminho de seu terceiro álbum. Imagino que já dê para olhar para trás e fazer alguma análise a respeito desse período...

PIPO PEGORARO — Pois é... houve mudanças incríveis. Quando lancei meu primeiro disco, eu estava muito ansioso. Tinha um monte de músicas compostas e queria gravar logo. Não pensei muito em como ele sairia. Com o tempo, as coisas foram amadurecendo. E acredito que isso tenha acontecido com muitos da minha geração. Estamos aprendendo a nos posicionar melhor, a ter mais clareza quanto às propostas dos nossos trabalhos. Ficamos mais profissionais. Lá no início, era uma coisa meio “eu faço um som, mas também sou fotógrafo e vendo produtos orgânicos...” [risos] Aos poucos, estamos podendo falar: “Sou músico! E só!” É muito bom poder viver daquilo que você gosta, viver daquilo que você tanto se esforçou para que desse certo...  poder parar e pensar: “Putz, finalmente vou receber um cachê que dê pra pagar bem todo mundo!” Isso está começando a acontecer. Nós estamos nos organizando melhor. Está se criando uma dinâmica... Mas São Paulo não está às mil maravilhas não. Está rolando, mas o trabalho é árduo. Você tem que estar todo dia lá, plantando a sementinha, cuidando... Hoje, alguns artistas já enchem teatros e fazem turnês internacionais... isso é algo novo! O próprio pessoal da vanguarda paulista, apesar de seu reconhecimento, não conseguia fazer turnês anuais pela Europa como, por exemplo, a Tulipa [Ruiz], o Bixiga 70 e o Criolo fazem... Acho que estamos conseguindo criar um mercado e formar um público interessado pelo nosso trabalho. Sou bastante otimista quanto a isso. Acho que finalmente há uma luzinha no fim do túnel... Acredito que eu faça parte de uma geração que vem aprendendo a “fritar o peixe e olhar o gato”. Não há uma máquina ou indústria que ajude a impulsionar as nossas carreiras. Estamos desenvolvendo os canais de comunicação e aprendendo a lidar com as demandas que são necessárias para viver de música. Itamar Assumpção já enunciava isso faz tempo...

BD — Os artistas falam muito da importância do Studio SP e do circuito Sesc para o desenvolvimento da cena paulistana...

Pipo — Acho superimportante que existam lugares de música perto das rotas e das casas das pessoas. O Studio SP ficava na Vila Madalena e depois foi para a Rua Augusta, que é um reduto onde muitas pessoas fazem seu rolê. Toquei algumas vezes por lá e acompanhei outros artistas também. Pena que fechou as portas... Eu estava pensando a respeito disso noutro dia... Fui tocar no Sesc Itaquera, que fica na zona leste de São Paulo. No final do show, um menino veio conversar comigo e disse que estava muito feliz, pois não conhecia o meu trabalho e, mesmo morando na mesma cidade, não teria como trombar com a minha música se não fosse pelo Sesc. Se o Sesc não promovesse esse tipo de encontro, como as nossas músicas chegariam até ele? É claro que existem outros espaços igualmente importantes que impulsionaram e ainda impulsionam a música em São Paulo, como a Serralheria, o Mundo Pensante, o Cento Cultural Rio Verde, a Casa do Mancha, o Puxadinho da Praça, o Centro Cultural São Paulo, a Galeria Olido... são lugares que fazem um recorte do que vem sendo feito na cidade e das movimentações sonoras que passam por ali...

BD — Mas ainda há dificuldades para divulgar o trabalho, não?

PIPO — Hoje em dia, as pessoas consomem música de forma diferente. É tudo muito mais efêmero. Até em relação ao apego ao artista...  Eu me lembro, antigamente, da minha mãe na maior expectativa pelo disco de final de ano do Roberto Carlos. Ela queria muito ouvir as músicas novas do cara! Hoje em dia, é um “legal, lançou...” Acho que a minha geração sofre bastante com isso. Nós ainda não conseguimos chegar ao grande público. Tenho a sensação que sempre somos encarados como marinheiros de primeira viagem: “Ah, tem um cara aí lançando um disquinho. Gravou lá na casa dele”... como se não se tratasse de algo sério, de uma carreira, de um objetivo de vida. Para o grande público, se você não for um big star, você não passa de um cara que está fazendo seu sonzinho em seu quarto. É outra visão, sabe? É muito chato, porque existe uma quantidade impressionante de artistas fazendo coisas legais! Ouço discos novos e surpreendentes toda semana! Surpreendentes mesmo! Você ouve e fala: “Puta, que legal, cara!” Mas há a dificuldade em escoar esse material. Existe um paredão. É muito louco... Praticamente, não há mais programas de música na TV. Nem a MTV a gente tem mais [o canal migrou para TV paga após o Grupo Abril devolver a marca à Viacom]! Então, como é que as pessoas vão nos conhecer?! Ok, nós temos um público bastante interessado, que corre atrás, mas ele ainda é muito pequeno. Acredito que ele esteja em expansão, muito pelo esforço dos artistas. Porque a gente precisa buscar novos lugares para tocar, né? Só assim as pessoas vão conhecer o nosso trabalho e ele poderá reverberar. É uma tarefa cansativa... Fico sempre pensando: “Meu, como é que vou impulsionar isso?!” Porque antes, mal ou bem, havia as gravadoras fazendo esse trabalho de divulgação. Havia um departamento de marketing em cima. Era possível pensar em uma carreira e, principalmente, vender seus discos... Não que eu pense o meu trabalho como um produto ou algo assim, mas é claro que eu preciso viver dele. Então, de alguma maneira, tenho que pensar como torná-lo lucrativo, que ele possa render algo, que eu recupere o que investi e consiga pagar as minhas contas... Esses dias, tive um papo superlegal com o Tatá Aeroplano. Ele me disse coisas incríveis sobre seus projetos, sobre a forma como vem gerenciando a sua carreira, pensando o seu futuro em médio e longo prazo. Eu ainda acredito que o sol nasça para todos, sabe? É uma questão de persistência. Fica lá no sol que uma hora você pega um bronze, meu! [risos] Porque você tem que acreditar! É o que me motiva a fazer as coisas. Trabalho com produção musical, trilhas sonoras... Acabo me envolvendo de maneiras diferentes com a música. Mas gostaria de me dedicar mais à criação. Fico muito nessa pilha, apesar dos meus outros trabalhos também me alimentarem artisticamente. Eles me permitem ter contato com uma infinidade de músicos, o que é muito enriquecedor. E quando digo isso, falo da matéria humana mesmo, do enriquecimento que se adquire ao conviver com alguém. Essa coisa intensa que é trabalhar junto com várias pessoas por semanas a fio dentro de um estúdio. Há sempre uma troca. Uma grande troca.


BD — Falando em estúdio, em Mergulhar mergulhei você contou com a colaboração do Filipe Catto e do Romulo Fróes. Como foi isso? 

Pipo — É. Eles fizeram esse mergulho junto comigo. [risos] Conheço o Romulo há bastante tempo, desde quando comecei a trabalhar com música. Ele já era uma figura conhecida em São Paulo e me lembro de vê-lo sempre fazendo coisas muito interessantes. Gosto do trabalho dele, de sua voz, de seus shows, de suas intenções artísticas. O Romulo é uma figura! Ele é um cara que, a princípio, pode te dar um pouco de medo. [risos] Porque ele tem aquela cara meio brava, né? Mas quando você o conhece, descobre que é uma fofura! [risos] Um queridaço! Começamos a ter mais contato na época em que gravei Taxi Imã. O Bruno Morais, que foi o produtor do disco, era amigo dele e nos apresentou. Aí, a gente começou a trocar ideias...  Fomos participar de um festival chamado Cidade Sonora e o Romulo me pediu para fazer o seu PA. foi muito astral. E assim começamos a criar um vínculo artístico. Agora, estamos fazendo uma trilha sonora juntos, para um seriado da TV Cultura. A parceria vem frutificando...  O Romulo é um cara que leva muito a sério o seu trabalho, que fica pensando, maquinando um monte de ideias incríveis. Ele tem uma visão poética e musical que me atrai bastante. Quando pensei nesse álbum, quis trazer certa densidade... é que todo mundo fala: “Pipo, como o seu trabalho é doce! Ah, que fofura!” [risos] Sempre ouvi esse tipo de comentário. Daí, fiquei pensando... não gosto de falar do pessimismo das coisas. Tento ser muito otimista em tudo que faço. E isso reflete nas minhas músicas. E o Romulo é uma pessoa que poderia acrescentar algo a isso, dar um novo olhar, entende? Então, quando pensei em fazer esse disco, de cara, falei com ele e com o Guilherme Kastrup. Achei que seria uma dupla que poderia me ajudar muito na pesquisa de novas sonoridades. Só que o Kastrup estava trabalhando em, sei lá, uns 27 álbuns! [risos] Então, meu disco foi tomando outro rumo. Mas foi um caminho natural. O Romulo acrescentou muito ao meu trabalho e fiquei bem feliz com o resultado.

BD — E o Filipe?

Pipo – Foi a Blubell que nos apresentou. O Filipe é adorável. A gente se encontrou em alguns eventos e começou a conversar sobre música e trocar referências... Então, eu o convidei a participar de um show meu. Ele topou e, depois, me chamou para fazer o Móbile [programa da TV Cultura]. A partir daí, fizemos diversas coisas juntos. Produzi a música do projeto do Jards Macalé [meu amor me agarra & geme & treme & chora & mata”, do disco E volto pra curtir] e o ajudei a gravar uma canção do Chico Buarque [“Flor da idade”] para uma novela da Globo [Joia rara].

BD — Você está produzindo o disco novo dele?

Pipo — Não. Mas costumamos trocar ideias e gostamos de trabalhar juntos. O Filipe é sempre muito inventivo... Na verdade, o que estou produzindo agora é o terceiro disco do Dani Turcheto. Ele sempre gravou sambas, mas quis fazer algo diferente dessa vez e me chamou. Está sendo um barato! Chamamos o Zé Nigro, Samuel [Fraga], Daniel Grajew... É um álbum que tem o samba como essência, mas que vai para outro lugar.

BD — Os seus dois últimos discos têm a colaboração de uma quantidade enorme de músicos, sendo que atualmente, a maioria dos artistas, até por questões econômicas, preferem ter bandas bem mais enxutas...

Pipo — É... acho que estou fazendo tudo errado! [gargalhadas] É uma loucura, né? O meu segundo disco teve metais e esse terceiro tem metais e cordas! Pensando assim, estou fazendo tudo errado mesmo! [risos] É que, durante o processo de composição, eu já imagino as músicas com uma sonoridade específica. Elas são compostas normalmente no violão, o que me dá muitas opções harmônicas que reverberam nos arranjos. É por isso que convido tanta gente para tocar! A banda que me acompanhava nos shows do Taxi Imã, por exemplo, era composta por seis músicos. O que, de certa forma, trazia algumas dificuldades. Porque fica muito dispendioso viajar com todos eles mais a equipe de produção. É punk! Tenho muita vontade de montar um show menor que eu consiga levar para mais lugares. Alguns convites pro Taxi... tiveram que ser recusados por questões financeiras, sabe? E aí, no disco seguinte, pra piorar, eu acrescentei cordas! [risos] O Megulhar mergulhei tem muita influência do João Donato e do Steve Reich, que é um compositor minimalista do qual gosto muito. Você tem que ouvir Music for 18 musicians! É lindo! Também ouvi bastante Matita Perê, do Tom Jobim. Tem uns detalhes de orquestrações... Desenvolvi muitas ideias de arranjos a partir desse disco. É uma delícia poder fazer esse tipo de coisa tendo uma banda grande, sabe? Eu me divirto muito!


BD — E como viabilizou financeiramente essas gravações?

Pipo — Tive que contar com a boa vontade dos amigos. Sem eles, esses discos não exitiriam. É por isso que eu tento ser solícito quando me chamam para algum projeto. É uma troca muito rica, uma antropofagia que não sobra nem a carniça! [risos] Porque todos que estão ali querem fazer com que a coisa aconteça. É um processo de construção muito bonito. Com o Taxi Imã foi basicamente assim. Mas pra esse disco novo a gente conseguiu um ProAc [Programa de Ação Cultural do governo estadual de São Paulo] Então, houve uma verba, que não foi nada demais, mas que ajudou muito...

BD — De uns tempos pra cá, diversos artistas de São Paulo passaram a flertar com a música africana, principalmente o afrobeat...

Pipo — [Interrompendo] Sim! E eu fico feliz da vida com isso. Mas é muito louco. Porque nunca pensei em pesquisar a música africana, nunca fui ao Senegal pra sacar como são os tambores de sei lá onde... esse meu envolvimento se deu de forma espontânea, veio do meu processo de aprendizagem musical e de composição. Eu lembro que quando comecei a pensar em fazer música, há mais ou menos uns 15 anos, já curtia os afrosambas do Baden [Powell]. Essa coisa africana sempre esteve presente em meu som. Na intenção da mão direita... mas não houve uma pesquisa profunda. É que ela permeia muito a nossa música. Não tem como fugir. Existe em nós um sentimento de ancestralidade que é de uma riqueza inesgotável. Acho que, em dado momento, houve um clique na cabeça dos músicos e eles começaram a despertar para isso. Surgiu uma vontade de dialogar com esses matizes e aí os encontros foram acontecendo. As pessoas estavam na mesma sintonia, havia uma identificação e uma vontade de falar a respeito dessas raízes africanas... Foi assim com a Aláfia e com o Bixiga 70. Por exemplo, os ensaios para a gravação do Taxi Imã ajudaram a aglutinar alguns componentes do Bixiga 70 para que, depois, eles formassem a banda. Em São Paulo, havia umas festas produzidas pelo Ramiro [Zwetsch], onde se tocava muito afrobeat. Elas acabaram se tornando um ponto de encontro do pessoal. As pessoas começaram a se identificar com aquilo: “Pô, olha que legal!” Porque o afrobeat tem essa coisa pra cima, de integrar as pessoas, de ser tocado de forma coletiva... isso é animal! Eu ia às festas para curtir o som. Mas acho meio estranho me associarem ao afrobeat. O meu som pode ter influência africana, mas, para mim, não é afrobeat. O que você acha?

BD — A sua música tem alguns elementos de afrobeat, né? [risos] O lado festivo, a mistura de funk e jazz com sonoridades africanas...

Pipo – O aforbeat é uma influência, mas... é que virou uma coisa tão “Oh, nossa! O afrobeat!” Teve um boom, né? Houve uma reapropriação da música africana...  mas não acho que eu ou o Bixiga sejamos afrobeat. Há uma influência forte dessa música em nossos trabalhos, mas também há muitas outras coisas. Assim como o Metá Metá e a Aláfia. Acho essas generalizações um pouco superficiais... Eu mesmo só fui sacar o Fela Kuti por causa do [Gilberto] Gil...

BD — Você tem influências do Gil?

Pipo — Muita! Sou superinfluenciado por ele. É algo muito forte. Adoro a sua leveza, a maneira como ele se expressa musicalmente, a forma como se coloca... há uma tranquilidade... Tenho um disco dele de 1974 [Gilberto Gil ao vivo], gravado no Tuca, em São Paulo, que ouço praticamente todos os dias! É de uma leveza assombrosa! Puta, que momento! A voz, as melodias, os arranjos... Adoro isso! Tem uma música desse disco que eu gosto muito: “João Sabino”. Acho o arranjo fantástico, não apenas pelas dinâmicas e modulações que a música traz em sua essência, mas também porque possui uma sonoridade que gosto muito. A mistura de timbres bem característicos da década de 70: piano elétrico, guitarras conversando com o violão maroto de Gil... ela é tão livre, tão cheia de cores... e com duração pouco experimentada nos dias atuais: 11m25s. Acho que toda música é um aglomerado de intenções: harmônicas, melódicas, poéticas... e nisso Gil é um mestre.


BD — Você já disse ser influenciado pelo Itamar. Chegou a conhecê-lo? 

Pipo - Não. Só fui a um show dele, na Funarte, em São Paulo. Mas o Itamar é um artista fundamental para mim. Eu ouvi muito, por influência da minha irmã. Ele é um artista que descubro e redescubro a cada momento. Tem uma música nesse disco, em especial, que quando compus era muito itamarzeira, só que, durante as gravações, acabou se modificando. Chama-se “Dia desses”: "Dia desses, dessa semana, passo aí/sossegado, muito assunto pra trocar..." [cantarola]

BD — Apesar de Mergulhar mergulhei ser leve, ele é um disco bem mais denso do que Taxi Imã e Intro...

Pipo – Sim, é verdade. Eu busco uma espécie de tranquilidade nas minhas composições, mas também gosto de ver o sangue escorrendo! [risos] Mergulhar... é um disco que abordo temas de nascimento, encarnação, entre tantas outras sensações do cotidiano. O próprio nome demorou bastante para sair, foi difícil traduzir a intenção que estava querendo mostrar e deixar explícito o sentimento de imersão que foi fazer esse disco. Eu quis intencionalmente uma sonoridade mais densa e creio que os artistas que convidei para participar do álbum também cooperaram para isso. O disco foi feito de forma bastante colaborativa. Tanto é que todos os músicos da banda foram creditados como arranjadores. A relação entre canções e letras também foi muito intensa. O Romulo foi imprecindível nessa parte, me ajudando tanto nas questões poéticas quanto musicais. Fizemos duas parcerias: “Indecifrável”, cantada pelo Filipe e a Xênia [França], e “Pra continuar”. Também fiz parcerias com o poeta Arruda e com o Paulo Casella. Acho que foram essas participações, esses diálogos que deram a densidade ao disco.

BD — Por falar em colaborações, você participa como arranjador do programa Cantoras do Brasil, não é? Poderia falar a respeito?

Pipo — Já fizemos três temporadas do programa, a próxima entrará no ar logo mais. A Mercedes [Tristão], a Mariana [Rolim] e a Simone [Esmanhoto] são as idealizadoras. São figuras incríveis e o astral é sempre good vibes. As gravações são muito divertidas. A direção artística e musical do programa é do Mauricio Tagliari. Nessa última temporada, o Mauricio dividiu essa função com o Luca Raele, os dois são sócios da YB Music. Eu faço parte da banda que acompanha as cantoras, desenvolvemos os arranjos. Mas a parada é punk! [risos] Não temos muito tempo para nos debruçarmos na pré-produção. A gente só se encontra uma vez com as cantoras antes de gravar o programa. Às vezes nem se encontra! Quando elas vêm de outros estados é na base do “um, dois, três e já”!

BD — Hã?!

Pipo — É! [risos] Loucuras do Brasil! [gargalhadas] São 13 cantoras por temporada, ou seja, são 26 músicas para tirar, retonalizar, rearranjar e tocar em menos de um mês! É hard! [risos] Algumas vezes eu tenho ideias prévias dos arranjos, mas preciso saber o que as cantoras querem, saber de suas intenções. Não é só dar o play e vai... O programa resgata a sonoridade das antigas gravações, feitas ao vivo. Como na época das cantoras do rádio. Acho genial! Os takes são únicos. Não rolam mil edições... Para mim, é uma puta experiência. Você tem que se virar em pouquíssimo tempo. É um processo criativo bem intenso.

 

2 Responses to CADA TEMPO EM SEU LUGAR

  1. Tika :

    e o show de lançamento no Sesc Pompéia foi lindíssimo! vida longa Pipo!!!! <3

  2. Adorei o Loucuras do Brasil, hahahaha, <3 ! Pipo Pegoraro, como diriam os meus filhos, é Tipo Incrível!

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