ISTO NÃO É UM POEMA

fotos: daryan dornelles
Criado em 1990 pelos poetas Chacal e Guilherme Zarvos, o CEP 20.000 tornou-se ao longo dos anos um dos pontos de referência da produção cultural carioca. Tendo por objetivo ser um espaço para a inovação e o diálogo entre artistas de diversas áreas, o CEP (Centro de Experimentação Poética) vem mantendo suas portas abertas para que novos nomes surjam e amadureçam seus trabalhos. Pelo seu palco principal — o Espaço Cultural Sérgio Porto — já passaram centenas de escritores, performers, artistas plásticos, atores e músicos. Michel Melamed, Rubinho Jacobina, Pedro Luis e a Parede, Mulheres Q Dizem Sim, Viviane Mosé, Funk Fuckers, Jonas Sá, Ericson Pires, Boato, Rogério Skylab, Gregório Duvivier, Thalma de Freitas, Os Outros, Fausto Fawcett, Do Amor, André Dahmer, Qinho, Chelpa Ferro, Letuce, Mariano Marovatto... a lista é longa e bastante significativa. O evento sempre teve uma estreita ligação com a cena musical carioca, o que o tornou um dos responsáveis pelo surgimento do mais importante festival de música independente da cidade, o Humaitá Pra Peixe, criado em 1994. Com o passar dos anos, o CEP diversificou-se e passou a ter, em alguns momentos, um caráter itinerante, percorrendo bairros das zonas norte e oeste, como Méier, Pavuna, Complexo da Maré, Bangu e Campo Grande.

Uma de suas crias mais conhecidas, o músico e escritor Botika começou sua carreira aos 12 anos, como ator na peça infantil A Mulher que matou os peixes, baseada na obra de Clarice Lispector. Mais tarde, envolveu-se com a música, por influência de seu pai, o compositor e diretor musical Caíque Botikay. Junto com o amigo e parceiro Vitor Paiva, integrou as bandas A Neura e Os Outros, lançando dois discos: Nós somos Os Outros (2007, Bolacha Discos) e Pacote felicidade (2010, Bolacha Discos). Paralelamente, envolveu-se com a literatura, publicando em 2004, seu primeiro livro, Autobiografia de Lucas Frizzo (Azougue Editoral), inspirado em PanAmérica (1967, Ed. Tridente), de Agripino de Paula. Seis anos depois, publicou o elogiado Búfalo (Língua Geral). Em 2012, lançou com sua banda e a cantora Teresa Cristina o álbum Teresa Cristina + Os Outros = Roberto Carlos (Deckdisc), onde interpretam canções de Roberto Carlos. Ao lado de Paulo Tiefenthaler, Alexandre Vogler e Guga Ferraz, foi um dos idealizadores do Aplique de Carne, projeto multimídia apresentado em 2013 no Galpão 5, da Funarte, em Belo Horizonte. Nesse mesmo ano, foi convidado pela jornalista Lorena Calábria a participar do projeto Agenor — As canções de Cazuza (Joia Moderna), onde fez uma releitura de “Ritual”, composição de Cazuza e Roberto Frejat. Ainda em 2013, ganhou destaque na mídia ao se envolver em uma discussão e ser agredido pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Em 2014, já com a banda desfeita e em carreira solo, lançou Picolé de cabeça (Bolacha Discos), produzido por Bernardo Palmeira.

Após diversas conversas e resolvidos alguns contratempos, fomos entrevistar Botika em sua casa, em Botafogo, no dia seguinte ao show que realizou no Espaço Cultural Sérgio Porto, onde dividiu o palco com a banda Do Amor. Contando com a presença de sua esposa, a produtora Ana Maria Bonjour, grávida de nove meses de sua primeira filha, Odete, Botika nos falou a respeito de sua carreira, projetos musicais e literários e da importância do CEP 20.000 para a cena carioca.

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