facebulk vol. 1 – thiago pethit – we like dancing and we look divine

foto: gianfranco briceño arévalo
Pethit Thiago

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Data de nascimento: 17 de setembro
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24/10/2013 08:08
Márcio Bulk
Mocinho, então, se lembra daquele nosso papo? Que tal mais uma entrevista? Bora falar a respeito do clipe [“Moon”], [David] Bowie, Lou [Reed], Velvet [Underground], decadência e luxúria? Rsrsrs! Pensei em fazer por aqui mesmo, pelo bate papo. Topa? Já estou mandando a primeira pergunta:
“Moon” está tendo uma repercussão enorme, tanto pela ousadia quanto pelo apuro técnico. Como surgiu a ideia de fazê-lo e como você o viabilizou?

25/10/2013 13:58
Pethit Thiago
Vamos lá, dando inicio à partida.
Desde quando lancei o “Estrela Decadente”, eu e Heitor Dhalia vínhamos sondando um ao outro para fazermos um clipe. A coisa engatou pra valer quando, separadamente, tivemos o mesmo insight. No fim do ano passado, reli as peças do Jean Genet, revi alguns filmes dos anos 90, como “My Own Private Idaho” [“Garotos de Programa”, Gus Van Sant], que tratavam de personagens e histórias absolutamente marginais, de um jeito poético e quase elogioso. Uma espécie de “ode aos marginalizados”, assim como “Drugstore Cowboy” [Gus Van Sant]. Fiquei obcecado com a ideia de fazer um clipe que envolvesse sexualidade, submundo e garotos de programa. Quando nos encontramos em janeiro deste ano, a primeira ideia que Heitor sugeriu foi exatamente essa e, então, soubemos ali que havia material para um videoclipe.
Fizemos alguns brainstormings, levantamos cenas, personagens, e fui juntando tudo em um roteiro, que depois foi reescrito pela Vera Egito para se adequar a bom tempo e budget para filmagem.  Entrei com uma pequena parte da produção e o Heitor, junto com a Paranoid BR, entrou com outra. Assim viabilizamos o vídeo em conjunto.

25/10/2013 14:49
Márcio Bulk
Você já vinha flertando com a sexualidade, o homoerotismo e a marginalidade desde o lançamento do “Estrela Decadente”, mas com “Moon” você tornou essas questões bastante explícitas. O que o atrai nesse universo? Ao mesmo tempo em que deve ter sido muito instigante se lançar nesses temas, imagino que também tenha se sentido um pouco vulnerável, não?

25/10/2013 15:30
Pethit Thiago
O que mais me atrai é pensar que existem outras possibilidades. Que a vida não precisa ser somente aquilo que entendemos pelo senso comum: o julgamento que se faz na capa da Revista Veja ou a realidade que vemos nas novelas da Globo. Existem outros mundos! Outras maneiras de viver! Outros modelos a serem seguidos, ou no mínimo, conhecidos. Abordar esses temas é um jeito de refletir sobre isso. E também de dar voz à minha personalidade e criar espaço para a minha própria existência no mundo. Eu diria até que é um instinto de sobrevivência. Se eu não criar possibilidades para existir como sou, certamente não serão os outros que o farão, pois não é conveniente.
Eu sinto que a conveniência e a mediocridade podem ser muito massacrantes, especialmente para um artista: produtos, modelos, mercados, padrões de consumo... Lido com isso o tempo todo. E acho que não é possível discutir essas questões sem que eu me exponha e fique vulnerável às crenças desse mundão. Preciso expor minhas ideias, minha vida, meu imaginário, sem censuras.
Eu me arrisco e, infelizmente, é um risco de verdade. Por todos os lados. Existem os que vão considerar aquilo ofensivo, os outros que vão dizer que é glamurizado ou polêmico –para minimizar uma discussão– , e, por sorte, têm aqueles que estão abertos às possibilidades que apresento. É aí que vale a pena.
No caso dos garotos de programa, mais do que só falar sobre a sexualidade, o que mais me cativa é a ideia de inversão de valores sociais. A inversão do que é objeto, do que é fetiche e do que é o capitalismo. Diferente da prostituição feminina que é de natureza machista, dado que a mulher na nossa sociedade é o sexo frágil e se torna objeto e fetiche para ser manipulada pelo cliente homem, no universo dos garotos, a questão pode ser completamente outra. Pode ser um jogo cínico e tão individualista que chega a ser anárquico. O homem é o sexo forte e está de igual para igual com outro homem, se ele ganha dinheiro e é fetichizado, talvez isso o torne mais forte ainda nas leis da natureza sexual. O que diz que ele está sendo mais objetificado ou mais manipulado doando sexo do que doando horas de trabalho engravatado num escritório, trabalhando para um patrão conservador? E isso é só um dos motes. Existem muitos outros a serem discutidos dentro desse tema que foge do feijão com arroz.

25/10/2013 15:32
Pethit Thiago
Adendo: E quando o homem se torna objeto de uma mulher, rica e poderosa, como acontece numa pequena cena do clipe, novamente vemos uma inversão de valores. Agora, é a mulher que detém o poder.

25/10/2013 16:12
Márcio Bulk
Você chegou a receber críticas ou ofensas por conta do clipe? Em tempos de Felicianos e Bolsonaros, tudo é possível...

25/10/2013 16:48
Pethit Thiago
Olha, por incrível que pareça, ofensas mesmo, foram pouquíssimas! Mesmo entre os comentários do YouTube.  Talvez devido à censura para menores de 18 anos, houve pouquíssimas críticas ou abordagens maldosas. O que senti pra valer desta vez foi um “grande silêncio” por parte de muitas pessoas. Como se “falar mal” ou “falar bem” pegasse mal. Seja porque a família está no Facebook ou porque os amigos ficariam chocados, muitas pessoas me escreveram dizendo que gostaram do vídeo, mas não poderiam compartilhar. Isso pra mim é o começo de uma conquista, pois tocar nestas questões, de maneira tão explícita, dentro de uma realidade cada vez mais careta e politicamente correta, faz com que o incômodo muitas vezes fique velado ou cochichado em confidências para os mais próximos. Pelo medo de expor a própria opinião e ser confrontado. Na dúvida, o silêncio. Ao mesmo tempo em que isso mostra o impacto que o vídeo pode ter, escutarmos esse silêncio é muito intrigante.

25/10/2013 16:52
Márcio Bulk
Boa parte de seu público é gay. Ao abordar esses temas imagino que, de certo modo, você acabe se tornando uma espécie de modelo ou ícone para esse público.  Como encara isso?

25/10/2013 17:00
Pethit Thiago
Na verdade, o meu público ainda é formado mais por meninas heterossexuais do que por meninos. Inclusive a maior parte dos compartilhamentos do vídeo, e das estatísticas de visualização, é feminina. Mas os meninos, em sua maioria, sim, são gays. Isso é o natural. Olhe para a nova safra musical, seja mainstream ou alternativa: o público masculino heterossexual não assimila direito nenhum cantor que não cante à cultura do macho pegador ou o rock honestão e branco, cervejeiro e misógino. Resta a opção do protótipo do músico cabeça, voz e violão, o samba e a tradição, sem qualquer charme. Sensibilizou ou rebolou um pouquinho, você está fadado a um público gay friendly.
Sobre ser um ícone gay, eu gosto da ideia de ser um ícone que tem sexo. Anjinhos caídos do céu e assexuados não me interessam.

25/10/2013 17:02
Márcio Bulk
Hahaha! Ótima resposta! Mas vamos lá:
Todas essas questões, somadas ao sarcasmo e ao clima de cabaré de algumas músicas do “Estrela Decadente”, remetem muito ao David Bowie dos anos 70. Ele foi uma referência para esta sua fase?

25/10/2013 17:23
Pethit Thiago
O Bowie é sempre referência. Na verdade, o Bowie foi para mim uma via de mão dupla. Porque comecei explorando todos esses aspectos de um ponto de vista pessoal e particular demais, sem pensar sobre a obra dele. Era pessoal demais para conseguir transportar aquilo que estava me passando, para encontrar similitudes e referências. E isso foi interessante porque, quando tudo começou a ganhar forma, é que comecei a assimilar não só a relação do meu trabalho com a influencia do Bowie, mas também a entender o trabalho dele sob outra perspectiva. Sacar o quanto ele sempre esteve antenado com seu próprio tempo e com o mundo, de um ponto de vista que, por mais que eu conhecesse muito a sua obra e já tivesse pensado sobre isso mil vezes, eu não tinha entendido ainda.
Ele está sempre, sempre, sempre falando sobre o mundo diante dele. Isso é o que mais me dá tesão no meu trabalho e no trabalho de outros artistas, essa possibilidade de olhar em volta e criar uma linguagem para um momento específico. É nesse paralelo entre falar do aqui e agora de forma tão legítima e estar criando algo atemporal, que reside a genialidade dele. E acho que não é a toa que ele ecoou os próprios fantasmas dessa mesma fase 70´s no último disco e vídeos. O mundo anda bem parecido com aquele que se viveu lá atrás.

25/10/2013 20:02
Márcio Bulk
O modo de lidar com a carreira, a preocupação com a própria imagem, o design dos discos e as questões estéticas dos shows... essa meticulosidade toda lembra bastante Bowie...

25/10/2013 20:08
Pethit Thiago
Dá quase pra dizer que eu tenho TOC [transtorno obsessivo compulsivo]. Hahaha!
Eu sou virginiano. Gosto de cada detalhe. Mas acho que não é só isso. Sinto cada vez mais que a música é, para mim, o canal de comunicação para chegar a mais lugares. É uma espécie de desculpa perfeita para criar imagens, vídeos, e outras possíveis linguagens que extrapolam a música em si. Como se só fosse possível ver o quadro completo, entender o discurso por inteiro, quando se tem todos esses elementos. Tem que olhar de longe para somar tudo isso.
É algo muito contemporâneo, mas o Bowie de fato já estava fazendo isso há 40 anos.

25/10/2013 20:16
Márcio Bulk
Há uma frase no livro “Bowie – A Biografia” [Marc Spitz, Editora Benvirá] que parece se encaixar perfeitamente no conceito de “Estrela Decadente”: “Bowie faz a decadência parecer elegante”. Era essa a sua intenção, não?

25/10/2013 20:51
Pethit Thiago
Eu acredito que a decadência seja o suprassumo da elegância. É justamente por ser o seu avesso que ela é o ápice da elegância. E podemos falar aqui de diversas formas de decadência. Há a decadência física, a moral, a pessoal, a do mundo... Mas no fim, é como o personagem de Gloria Swanson em “Sunset Boulveard” [1950, Billy Wilder]: nada pode ser mais elegante, charmoso, magnético do que aquela figura envelhecida da superestrela do cinema mudo que foi esquecida pelo mundo em sua mansão. Há uma sabedoria... uma expertise de elegância dentro das figuras decadentes. São palavras opostas e complementares. São melhores amigas que se odeiam. Não é que andem sempre juntas, mas quando andam... Hahaha! É justamente aí, neste extremo, quando tudo está errado, quando tudo está do avesso, quando esses extremos se contrapõem e essas amigas saem de mão dadas é que se torna possível escapar da mediocridade e do convencional. Escapar do que é “conveniente”. Como os dandys do Baudelaire: os últimos heróis da decadência.

25/10/2013 21:00
Márcio Bulk
Tanto Bowie quanto Lou Reed, que você já confessou ser fã, tinham vidas bastante atribuladas e as utilizavam para promover os seus trabalhos, seja em shows ou em entrevistas. No seu caso, essa questão das máscaras e personas parece se limitar ao palco...

25/10/2013 21:51
Pethit Thiago
Bom, acho que são outros tempos, né? Tanto pela maneira como lidamos com a privacidade nos dias de hoje, quanto pelo tamanho de Bowie e Lou no star system da época.
Até porque, atualmente, falar da vida pessoal é muito boring! É o que todos fazem pelo Facebook, com escândalos ou sem. As engrenagens também funcionavam de forma distinta. Antes, havia muita grana envolvida e muita gente pra tomar conta das bagunças. Hoje, sendo um artista independente, você não consegue ser loucão, quebrar hotéis milionários por aí (meu sonho! Hahaha!) e, ainda assim, manter uma carreira, gravar disco, fazer shows... Se eu me meter numa loucura dessas, ninguém vai dar conta das despesas. Haha!
Mas olha, minha vida daria algumas boas manchetes em tabloides de fofoca. Sempre penso nas manchetes, mas isso, como se fosse lá nos anos 70. Esses personagens ou máscaras, na verdade, servem justamente para dar voz a esses meus delírios. Não teria a menor graça se eu ficasse postando no Facebook e ganhando alguns likes. Haha!
Gente... eu AMO dar entrevista pra você! Hahahaha! Eu sempre saio com uns insights pessoais. Hahaha!

26/10/2013 05:32
Márcio Bulk
Hahaha! Que bom! A recíproca também é verdadeira!
E sem querer ser chato, você ainda não terminou de dar a sua resposta!
Ah, terminou sim! Ops, falha nossa! É que eu vi a mensagem pelo celular e só apareceram as primeiras linhas!

26/10/2013 16:06
Pethit Thiago
HAHAHAHAHAHAHA
Quer que eu fale mais?

26/10/2013 16:06
Márcio Bulk
Por enquanto acho que está bom! Rsrsrs! Darei uma lida...

27/10/2013 15:31
Márcio Bulk
Menino, Lou Reed morreu!

27/10/2013 15:32
Pethit Thiago
O QUÊ????????????????????

27/10/2013 15:32
Márcio Bulk
Saiu na Rolling Stone!

27/10/2013 18:13
Pethit Thiago
Márcio... que horror. Não quero ter mais ídolos... dói demais isso!

27/10/2013 18:40
Márcio Bulk
Estou chocado, cara! A gente estava falando dele ontem! E acontece isso! Tinha baixado a discografia do Velvet essa semana por conta da biografia do Bowie. Não sabia que o Lou estava doente.

27/10/2013 18:42
Pethit Thiago
O que eu acho muito triste é que ele ainda estava na ativa, pensando, criando... a fim do mundo, a fim de dialogar, olhar pras coisas.
Nossa, ele foi tão importante pra mim... principalmente naquele momento da depressão, em 2011, pré-“Estrela Decadente”. Eu estou sentindo como se um amigo tivesse falecido. Tô aqui refletindo: MEO DEOS eu não vou conseguir lidar com as mortes do Bowie, Caetano, Patti Smith...
Chega a ser engraçado se não fosse trágico.

27/10/2013 19:03
Márcio Bulk
É foda. Mas rapaz, e o título da entrevista?
O que acha de “We like dancing and we look divine”?
“Rebel Rebel” na veia.

27/10/2013 19:05
Pethit Thiago
hahahahahah amo <3





entrevista originalmente publicada na Revista RODA #3

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