todos os rumos

fotos: daryan dornelles


Todos já ouviram até a exaustão a respeito da crise que, há mais de uma década, assolou o mercado fonográfico. Entre discursos alarmistas e outros tantos pragmáticos, o que ficou claro é que, de fato, a época de ouro das grandes gravadoras havia chegado ao fim. Ao longo dos últimos anos, em meio ao encolhimento do mercado, foi bastante perceptível a atuação das majors para manter seu status: desde o enxugamento de seu casting, passando por uma feroz e ainda presente guerra contra a pirataria e a terceirização e reestruturação de suas funções. Vivendo um processo de reconfiguração, onde tanto a produção quanto a circulação e o consumo foram alterados, a indústria musical tradicional viu surgir novos modelos de negócios provenientes da ascensão de poderosas corporações de serviços online, que, por sua vez, possibilitaram o crescimento de um mercado independente até então bastante precário no país. Com modelos de negócios alternativos e a utilização de ferramentas digitais acessíveis – como as rádios online, podcasting, streaming e plataformas como MySpace, YouTube e Facebook – artistas independentes, pequenas gravadoras e outros agentes culturais ganharam visibilidade. Sem esperar pela antiga infraestrutura das majors e o lucro proveniente da venda de CDs, uma nova geração de artistas assumiu o controle da produção e distribuição de seus álbuns, passando a rentabilizar suas músicas através de shows e da sua utilização em publicidade, trilhas sonoras de filmes e games. Assim, paralelamente à parcial perda de força das grandes gravadoras, os editais de fomento à cultura adquiriram enorme importância juntamente com os financiamentos coletivos, o que colaborou para que produtores e assessorias de imprensa obtivessem um papel de destaque no cenário atual.
Mesmo que ainda seja possível questionar a real democratização dos meios de difusão de música no país, tornou-se evidente que apenas com as mudanças ocorridas nos últimos anos foi possível o surgimento e o êxito de nomes como Criolo, Marcelo Jeneci, Tulipa Ruiz, Karina Buhr e Cícero, bem como a consolidação de gravadoras de pequeno e médio porte, distribuidoras independentes, coletivos e sites alternativos especializados na divulgação desses artistas.
É sobre este e outros assuntos que conversamos com o cantor e compositor paranaense Bruno Morais. Vindo do teatro, atuou em 1997 na montagem “Alice Através do Espelho”, da companhia de teatro Armazém. Dois anos depois, formou a banda Madame Brechot, onde interpretava clássicos do samba, soul, funk e samba jazz. Gravado entre Londrina e São Paulo, onde vive atualmente, Bruno lançou em 2005 seu primeiro álbum, “Volume Zero”, contando com as colaborações do duo Drumagick, Suely Mesquita, André Verselino, Zé Nigro, Rafael Fuca e do produtor Wendl (Kronk). Nesse mesmo ano, durante o período de divulgação do disco, foi selecionado para integrar o projeto Red Bull Music Academy, em Seattle. Lá, conheceu e realizou parcerias com importantes nomes como os produtores Leon Ware (Marvin Gaye, Quince Jones, Maxwell), XXXChange (Spank Rock, The Kills) e Vitamin D (Gift of Gab, Abstract Rude). Antes de voltar ao Brasil, fez ainda uma pequena turnê em Chicago, tocando em palcos da cena underground da cidade. Já em São Paulo, começou a produzir, ao lado de Guilherme Kastrup, o seu segundo disco: “A Vontade Superstar” (YB Music), lançado em 2009. Nesse mesmo ano, fez uma participação especial no álbum “Na Boca dos Outros”, de Kiko Dinucci. Em 2010, lançou o single “Bruno Morais no Estúdio A” e, no ano seguinte, “Bruno Morais no Estúdio A.2”, onde regravou “Sorriso Dela”, de Erasmo e Roberto Carlos. Disponibilizados para download gratuito, também tiveram versões em compacto. Auxiliando Pipo Pegoraro na produção de seu segundo álbum, “Táxi Imã” (YB Music), Bruno foi um dos responsáveis pela  formação da banda de afrobeat Bixiga 70. Em 2012, o músico lançou “A Vontade Superstar” em vinil e assinou contrato com a gravadora inglesa Black Brown & White, responsável por lançar, no mesmo ano, na Europa, o seu segundo álbum. Bruno recebeu boas críticas e destaque em diversas publicações estrangeiras, como The Guardian, Mojo, Le Monde, Les Inrocks e Spiegel Kultur. Ainda em 2012, participou, ao lado de Lulina, do projeto Lado A Lado B, lançando mais um compacto virtual.
Preparando-se para uma turnê europeia e as produções de mais um compacto e de seu próximo álbum, Bruno veio de férias para o Rio no início deste ano. O Banda Desenhada, aproveitando a chance, o convidou para esta entrevista, realizada no Estúdio Fotonauta, no bairro da Glória.

- continue lendo >