tempos modernos

fotos: daryan dornelles


Rio de Janeiro, verão de 1982. Instalado na praia do Arpoador e, posteriormente, transferido para o bairro da Lapa, o Circo Voador apresentava novos cantores e bandas que, em sua grande maioria, eram influenciados pela new wave e pelo rock dos anos 60, incluindo a jovem guarda. Passando pelo seu palco ou pela então badalada boate Noites Cariocas, nomes como Blitz, Lulu Santos, Ritchie, Eduardo Dusek, Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, Biquini Cavadão, João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, Leo Jaime e Os Paralamas do Sucesso acabaram ganhando espaço no cenário musical da cidade e na mídia nacional. Mérito também da rádio Fluminense FM e de alguns jornalistas que viam frescor e irreverência nessa nova geração. Entretanto, boa parte dela sofreu críticas severas por conta de suas composições despretensiosas e pelo rompimento com o que vinha sendo feito na música popular brasileira. Absorvida por uma indústria fonográfica em ascensão, a ala carioca do BRock também foi considerada culpada, entre outras coisas, de eclipsar o trabalho dos artistas independentes, como os da Vanguarda Paulista. Entretanto, seria imprudente não reconhecer a importância de uma cena que imprimiu, de forma contundente, o pop na música nacional. Por conta disso, foi possível, na década seguinte, presenciar o surgimento de bandas como Sex Beatles, Skank, Penélope, Jota Quest, Pato Fu, Video Hits e, mais à frente, de nomes que, mesmo sob o rótulo de neoMPB, adotaram uma linguagem pop, como Jonas Sá, Marcelo Jeneci, Tulipa Ruiz, Pélico, Letuce, Os Outros, SILVA, Tereza e Hidrocor. Mesmo que à primeira vista pareça um tanto inusitada, essa conexão aos poucos vem sendo percebida, sobretudo com o início do diálogo entre esta nova geração e alguns artistas que marcaram os anos 80, como Lulu Santos, Arnaldo Antunes, Edgard Scandurra e Marina Lima.
Formada em 2009 em São Paulo, a banda Hidrocor é composta pelo carioca Marcelo Perdido (voz e violão) e pelo belenense Rodrigo Caldas (bateria), também integrante do Bazar Pamplona. Lançaram em 2010, o clipe “Planos Pro Ano Que Vem” e, em 2011, “Vou Voltar”, “Tchau Gravidade” e “Ma Cherie”, este último filmado em Paris por Marcelo e sua esposa, Fernanda Vidal, durante sua lua de mel. O vídeo teve grande repercussão e ultrapassou 100.000 visualizações no YouTube. Em 2012, finalmente lançaram pelo selo Capitão Monga Records seu primeiro disco, “Edifício Bambi”, extremamente pop e contando com as participações de artistas da nova geração, como Lulina e Tatá Aeroplano. Investindo fortemente na produção audiovisual, nesse mesmo ano, a banda lançou mais dois clipes, “Edifício Bambi” e “Duda”. Também nesse período, participou de dois álbuns-tributo: “Re-Trato” e “Jeito Felindie”, em homenagem, respectivamente, aos grupos Los Hermanos e Raça Negra. Em 2013, preparam-se para uma turnê pelo país e o lançamento virtual de um single com duas músicas inéditas: “A Gente Diz Que Tá Aprendendo a Amar” e “Nem Todo Amor Que Começa Acaba”.
Vindo ao Rio com a sua banda para se apresentar ao lado de Brunno Monteiro no Estúdio Floresta, Marcelo Perdido aceitou o nosso convite para uma entrevista ao Banda Desenhada. O músico nos falou de suas influências, das atuais dificuldades de uma banda independente e das controvérsias em relação à música “Ma Cherie”.

BD – Ouvindo “Edifício Bambi”, senti certa influência do BRock, principalmente da primeira leva, carioca e com forte influência da new wave. Existe esta ligação?

Marcelo Perdido – Quando eu era pequeno, a primeira banda brasileira que eu ouvi foi a Blitz. Era uma febre. Havia até álbum de figurinhas! Acabei sendo atraído para o universo deles, mais pela comunicação visual e pelo jeito que eles se apresentavam do que pela letra ou por sua musicalidade. Naquela época, a indústria fonográfica passava por um momento bem diferente do atual, transcendendo a questão da música. Eu era muito fã do Evandro Mesquita. Queria ter mullets iguais aos dele! [Risos]. Achava a Fernanda Abreu linda! Até hoje, eu piro nela. Anos depois, um pouco mais velho, reencontrei os vinis que estavam perdidos lá em casa e fui escutar novamente. Continuei gostando e finalmente entendi algumas letras que, quando criança, não era capaz de compreender totalmente. A música sempre esteve muito presente na minha vida, sabe? Quando era pequeno, ganhei uma vitrolinha dos meus pais. Eu ficava enlouquecido procurando por disquinhos. Além disso, estudei em uma escola riponga, onde havia muita música. Acho que rolava um bairrismo e os professores acabavam puxando a sardinha para as bandas cariocas. [Risos]. Então, há um eco. Gosto bastante dessa época e vejo certa influência no vocabulário, nas letras da Hidrocor. O Evandro Mesquita escrevia canções que tanto o carinha mais descolado quanto o mais desinformado entendiam. E isso é uma coisa que sempre tento fazer: utilizar uma linguagem que seja comum a todas as pessoas, que seja de todos. Talvez essa seja a maior influência da Hidrocor.


BD – De forma geral, há preconceito com as bandas dos anos 80, por serem consideradas muito comerciais e, de forma geral, não se relacionarem com as gerações anteriores da música popular brasileira...

Marcelo Perdido – Acho isso uma puta besteira. Na época, aquela sonoridade com os timbres de bateria eletrônica e teclados Casio era uma espécie de experimentação. Talvez a única possível dentro do universo pop. Também percebo esse preconceito que você mencionou. As pessoas costumam dizer que a música dos anos 80 é um lixo, mas não percebem que era a piração daquele momento, daquela galera. E, pensando bem, acho que a geração 80 foi muito importante para nós, por imprimir uma estética pop na música brasileira. As bandas daquela época eram capazes de construir uma identidade, ter um estilo próprio, sem almejar ou idolatrar o indie. A Blitz, o Kid Abelha, o Barão Vermelho... Eles não queriam se fechar. Assim como as bandas de hoje. O sonho de todo artista é ser ouvido, entende? Eu me identifico pra caramba com essa ideia de ser um hitmaker, do hit, do pop. E acho que outros da minha geração também têm essa ideia. Achei foda a Tulipa [Ruiz] ter gravado com o Lulu [Santos]! Foi uma coisa de outro mundo! Fantástica! Adoraria fazer o mesmo, mas é algo muito distante da minha realidade.

BD – Você falou em indie... acredito que esteja se referindo mais a uma sonoridade ou a uma estética do que à cena independente. Essa classificação de MPB indie não é um pouco pejorativa?

Marcelo Perdido – O problema é que, às vezes, os rótulos são criados pelas próprias bandas e não necessariamente pelos jornalistas. Sinceramente, se pudesse escolher, eu preferiria ser rotulado como pop em vez de indie. Eu não consigo deixar de associar esse termo a uma escolha quase tibetana, a um caminho bizarro onde você faz música apenas para alguns iniciados entenderem e ter assim o meu rebanho. As pessoas falam do pop como algo horroroso, mas o indie me parece, também, bastante ruim.


BD – Você, por sinal, com a música “Ma Cherie”, fez uma crítica bastante dura à neoMPB, principalmente aos artistas que flertam com o indie e a chanson française.

Marcelo Perdido – Nas entrevistas, tentam sempre colocar esse embate, mas não é assim. Gosto muito da Tiê, do Thiago Pethit e da Bárbara Eugênia. No meu celular antigo, o toque era “Aula de Francês”, da Tiê, que é a música do meu namoro com a Fernanda [Vidal]. Eu queria, na verdade, fazer uma crítica aos artistas que se forçam a cantar uma música em francês para parecer mais legal ou sofisticado, que não dominam o idioma e que não têm nenhuma afinidade com aquela cultura. Além disso, se você e seu ouvinte se comunicam em português, me parece muito mais óbvio você interpretar uma canção nessa língua, para que não se disperse a mensagem. Na verdade, “Ma Cherie” é uma crítica a um caso específico de uma birra minha com uma cantora que eu não gosto e que fiquei muito incomodado ao vê-la na TV cantando em francês. Era uma situação bisonha. A pronúncia estava errada... E a cantora, sob o rótulo de nova MPB,  se prestando a esse papel! Os versos “E o que atrapalha é ter toda essa pretensão / De querer ser superlegal / De querer ser um croissant / Quando você é um pão de sal” é justamente sobre isso. Pão de sal é a melhor coisa do mundo! Pão de sal dá um pau no croissant! [Risos]. Então, não há necessidade de querer ser um croissant! Você não tem que ter vergonha de ser um Biscoito Globo só porque você está ao lado de um Trakinas, sabe? [Risos]. A ideia era meio essa. É uma crítica sim, mas não aos meus colegas de geração, aos meus parceiros. Eu realmente não quis atingir a Tiê ou o Pethit... O problema é que já escreveram isso em alguns blogs. Fiquei superconstrangido. Até entrei em contato com o Pethit. E foi engraçado, porque, tempos depois, eu o encontrei no show da Tulipa no Auditório Ibirapuera e ele me falou: “Você viu o que saiu na Folha [de S.Paulo], na matéria sobre o meu novo disco?!”. Ele me contou que havia dito ao jornalista que não queria passar mais a imagem de bom moço, sem citar qualquer nome. Só que colocaram “Thiago Pethit não quer soar como Hidrocor, Cícero e outros [no texto também são citados SILVA e A Banda Mais Bonita da Cidade]’’. E olha que tanto o jornal quanto os blogs que escreveram a nosso respeito são superlegais! Enfim, a minha crítica foi a uma cantora que, a meu ver, quis parecer algo que não é. Foi basicamente isso. Mas acabou sendo um tiro no pé, porque as pessoas acharam que era uma crítica à cena independente, como se ela olhasse apenas para o próprio umbigo.

BD – E, imagino, que nem em sonho você dirá o nome dessa tal cantora, não é? [Risos].

Marcelo Perdido –  Prefiro não. Poxa, é uma questão puramente de gosto. Eu não curto o trabalho dela, mas não a conheço pessoalmente. Não acho que vale a pena afirmar publicamente isso ou aquilo. Vai ver ela é supergente boa e estava amarradona cantando aquela em francês.

BD – Bem, e quanto à Hidrocor ser chamada de banda fofa? Você já reclamou disso algumas vezes...

Marcelo Perdido – Dá um pouco de preguiça. Não vou negar que a Hidrocor tem uma leveza e uma ótica bem positiva e pouco agressiva. Talvez as pessoas esperassem mais revolta e uma postura mais roqueira de uma molecada de vinte e poucos anos, mas na Hidrocor... putz! As músicas nascem no violão e continuam nele. Não costumamos sujá-las. Lógico, quando fomos gravar o CD, colocamos várias coisas, criamos camadas, mas ainda mantivemos a leveza, tanto na parte instrumental quanto no jeito de cantar. E isso também tem a ver com as bandas que eu escuto, como o I’m From Barcelona, Darwin Deez e The Boy Leastlikely To. Bandas que não abandonam as referências da infância, de ainda querer ter uma casa na árvore. Até hoje eu gostaria de ter uma. Lógico, teria que ser bem maior para caber todas as coisas importantes para um jovem adulto, como uma vitrola, por exemplo. [Risos]. E isso não é infantilismo, sabe? Se você der uma entrevista e disser que a coisa que mais gosta na vida é de sorvete... [faz expressão de nojo] Tá ligado? É proibido! Você tem que falar que o que é mais importante para a sua vida é comer buceta! [Gargalhadas]. Senão você não é um cara do rock! E aí acaba sendo chamado de fofo e visto como um bobo ou simplório. As pessoas cobram que você tenha certa postura. Já falaram que a música da Hidrocor parece música ambiente ou de propaganda de margarina... aquilo me deu um negócio! Uma das músicas mais fofas do Hidrocor, fala sobre a experiência de tomar ácido [“Planos Pro Ano Que Vem”]! Está lá, é literal. Só que as pessoas não prestam atenção. Os versos passam completamente batidos! As canções da Hidrocor relatam experiências de pessoas adultas, de seus problemas, só que de uma forma que é possível ter várias interpretações. E aí, cabe ao ouvinte escolher qual delas ele vai assimilar.

BD – Vocês participaram do projeto “Jeito Felindie”, um tributo ao Raça Negra. Ao que parece, os críticos não lidaram muito bem com a proposta...

Marcelo Perdido – A única crítica que falava da Hidrocor, e que eu não achei tão condizente, foi uma que disse que escolhemos fazer um som meio Los Hermanos, colocando metais e buscando um caminho fácil, sem chances de erro. Como se fosse uma receita de bolo, sabe? Mas não foram os Los Hermanos que inventaram o naipe de metais, cara! A gente fez uma versão para “Deus Me Livre” que, pelo menos na minha cabeça, era para ser uma balada mexicana, com um clima mariachi. Quando estávamos gravando, lembro que o João [Victor, produtor da música] falou: “Vamos fazer um negócio meio [Ennio] Morricone”! Eram essas as referências. Também fiquei incomodado com outras críticas. Li uma que falava do Letuce e que discordei. Disseram que a dupla havia estragado a música! Acho que todo mundo pode gostar ou não de tudo. Mas acho muito mais legal viver em um mundo onde as pessoas não ficam só falando do que não gostam. Porque é insuportável! Imagina levar isso para o cotidiano! Hoje o facebook é basicamente isso! Todo mundo tem o direito de falar o que pensa, mas é muito mais interessante quando você fala algo construtivo. Você pode não achar válido fazer tributos, todas as opiniões têm o seu espaço, mas não gosto do tom de algumas pessoas. A Hidrocor teve a sorte ou o azar de gravar dois tributos de artistas muito queridos. Fizemos o do Los Hermanos e ouvimos muitos xingamentos! Você não sabe de onde aquelas pessoas tiraram tanta raiva! Houve um verdadeiro debate no YouTube! É claro que você pode comentar, existe o espaço para isto, mas, por favor, não vá fazer daquilo a sua razão de viver! Ficar atualizando e vendo se responderam à sua provocação?! Se um cara chegar e quiser falar comigo o porquê dele não ter gostado da nossa versão do Los Hermanos, ok. Tomamos uma cerveja e trocamos uma ideia, irei ouvir e argumentar. Mas se eu perceber que só quer me agredir, aí é outra coisa! O problema é que a minha geração não tem uma armadura, não tem uma blindagem para este tipo de ataque, sabe? Ainda vemos isso tudo com espanto. Tanto da parte dos críticos quanto do público. Porque todo mundo que fez essas versões colocou uma energia, um carinho. Ninguém estava ali de oportunista ou tirando sarro do Raça Negra. Fizemos essa parada porque gostamos, porque acreditamos. Esses tributos não são comercializados, ninguém ganha nenhum dinheiro com isso, muito pelo contrário. Pagamos ensaio, estúdio e gastamos o nosso tempo. Algumas vezes, as pessoas acabam conhecendo a sua banda por conta do tributo, mas, se parar para pensar, é uma faca de dois gumes. Porque várias pessoas devem detestar a Hidrocor e outros tantos artistas justamente por causa disso, porque tivemos a pachorra de regravar o repertório da banda que elas mais gostam! Teve uma menina que escreveu algo assim: “Ah, Hidrocor, porque você se dedica tanto a estragar a música da banda que eu amo?”. Sabe?! Nenhum artista cresce lendo esse tipo de coisa. Se você for ver, várias músicas do Raça Negra são massa, as letras, a vibe... nós até colocamos a música do tributo no shows!


BD – Mesmo sem a blindagem que você comentou, é inegável que, no contexto das bandas independentes, a Hidrocor tem um marketing bastante agressivo, pelo menos nas redes sociais. A brincadeira com a novela “Avenida Brasil”, o lançamento do clipe de “Duda” no dia das crianças e o compartilhamento da música “Supererói” no período de lançamento do filme do Batman mostra uma preocupação com as ações de divulgação da banda.

Marcelo Perdido – A coisa não é bem assim. Eu achava que “Duda”, dentro do disco, era uma musica um pouco escondida, por estar mais para o final. As pessoas costumam falar que gostam, mas não acho que tenham escutado muito. Aí, fizemos um vídeo com o depoimento de um pai, falando sobre a sua relação com a sua filha e depois lançamos o clipe no dia das crianças. Estávamos muito mais preocupados em deixar à mostra uma mensagem que está embutida na canção do que necessariamente divulgar o nosso trabalho. As músicas dentro de um disco se relacionam entre si e podem ganhar ou perder força. Mas elas também funcionam separadamente. Vejo o “Edifício Bambi” como um prédio onde acontecem várias historinhas. Então foi nessa “nóia”: quisemos destacar uma delas. E “Supererói” era uma música que já estava pronta e queríamos muito colocá-la nos shows. Na verdade, eu quis soltá-la quando aconteceu aquele tiroteio nos Estados Unidos, na pré-estreia do Batman. De fato, a música não é para o Batman. Mas aí, o release que eu queria soltar era muito pesado e a assessoria acabou vetando: ”Marcelo, faz isso não! Não fala em tiroteio! Não pega bem!”. A música fala sobre sacrifício, de escolhas que você é obrigado a fazer... que não é possível ter uma namorada ou levar uma vida normal quando o mundo inteiro depende de você. Resumindo, é a história de um super-herói atormentado. Mas aí deixamos o lançamento para mais tarde e ficou parecendo um evento promocional para o filme do Batman. E até combinou, pois nesse filme ele tem uma puta crise: “Será que Gothan precisa de mim?”. E a brincadeira com a novela foi basicamente porque na “Avenida Brasil”, quando acabava um capítulo, ficava tudo em preto e branco e congelava. A Hidrocor tem uma música que se chama “Descolorindo”, então resolvemos fazer umas chamadas em cima desse detalhe. Não foi nada muito pensado e deve ter durado uns três, quatro dias. Era uma brincadeira apenas. Só que temos que tomar cuidado com isso. Essas ações estão abertas a muitas interpretações e acabam fugindo do que você queria passar para as pessoas. Porque parece, às vezes, que você é o Mamonas Assassinas, que está ali só para tirar sarro de tudo e de todos. Também é uma ilusão você achar que irá atrair uma multidão de pessoas ao postar alguma coisa na sua página no facebook. Não temos essa pretensão com essas estratégias. Não vai ser através dessas brincadeiras que vamos ser seguidos por mais 10 mil pessoas. Se trouxer mais alguém, ótimo, mas a gente, na verdade, só está alimentando a nossa turminha. Não vamos conseguir, por conta disso, sair na capa da Ilustrada [caderno da Folha de S.Paulo]: “Hidrocor lança clipe no dia das crianças”... Não é pauta de jornal. Só alguns blogs que acabam dando espaço por terem um perfil compatível com a banda.


BD – E como tem sido a busca por espaço? São Paulo oferece uma infraestrutura bem interessante para a sua geração...

Marcelo Perdido – Sim, dá para tocar em vários lugares na cidade. Só que você toca quase sempre para a mesma galera. Não foge muito disso. Você não vai tocar em vários lugares e neles encontrar um público fiel da casa que vai te conhecer e acompanhar dali em diante. Isso não rola. Em São Paulo, como tem muita opção, você não vai toda semana ao show do mesmo artista. É foda. A gente não deveria ter que se preocupar com isso, de ter que trazer público. E isso acontece em alguns contratos com casas de shows. Algumas impõem que você traga x pessoas ou que pague tanto para poder tocar ali. Isso é uma realidade muito triste porque desvia o nosso foco. Você começa a ficar preocupado com quantas pessoas vão estar lá e se esquece do principal, que é fazer um puta show. Talvez no interior de São Paulo, pelo número reduzido de eventos se comparado à capital, deem mais valor quando uma banda vai lá se apresentar e mostrar o seu trabalho. De forma geral, em lugares em que não há muitas opções de lazer, o público valoriza mais o artista e percebe mais claramente o valor que aquilo tem. Porque o show é um momento muito especial para nós, sabe? É naquele momento que mostramos nossas músicas. Você percebe, de fato, qual funcionou e o que as pessoas estão sentindo, o que elas estão lhe devolvendo. É um momento muito massa. Independente de quantas pessoas foram, a banda saiu de casa para fazer um show e há uma plateia. Então tem que rolar. Independente de ser uma pessoa ou um milhão de pessoas. É muito difícil, mas a banda também tem que conseguir ter desprendimento e fazer um puta show mesmo para poucas pessoas. É difícil encarar essa situação, mas temos que fazer com que o público saia com uma ótima impressão a nosso respeito. Porque, no final das contas, se você não fizer com que aquele momento seja fantástico para aquelas pessoas que estão ali, você perderá a chance de que no próximo show tenha mais gente. É a história do boca a boca. Sei que é difícil ter essa clareza na hora, mas a realidade é que boa parte dos artistas independentes não tem o dinheiro de uma gravadora ou de um patrocinador que lhe garanta algum sustento. Então, temos de lidar com muitas questões, muitas informações e sentimentos conflituosos que prejudicam a nossa performance, que nos fazem entrar no palco já um pouco cansados e sem foco no momento que deveria ser o mais gostoso para nós. A expectativa gera muita frustração. Mas acredito que a culpa seja de todos. Acho que muita gente que nos ouve e curte não comparece em nossos shows. Ninguém é obrigado a ir, mas é este o momento de você poder nos ver, de conversar com a gente. A maioria dos músicos da cena independente é acessível. Então, compareçam! Eu estou nessa porque acredito no que faço, sabe? Porque tocar e fazer shows é um puta prazer e é o que me dá gás para que ainda deseje continuar nessa.





http://bandahidrocor.com.br/

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