à flor da pele


O samba é mãe. Surgido no início do século XX no Rio de Janeiro, o samba deve o seu nascimento às quituteiras baianas que ao fixarem residência na zona portuária da cidade – conhecida na época como Pequena África – trouxeram para a região os ritos e festejos do candomblé. Tia Ciata, tia Amélia, tia Prisciliana, tia Veridiana, tia Mônica e outras tantas baianas foram as grandes responsáveis por gerar os primeiros bambas do gênero que se tornou a mais significativa identidade do país. Feminino em sua origem, o samba trouxe desde seu berço a mistura de estilos que permearia boa parte da produção musical brasileira, como a bossa nova e a própria MPB.
Quase um século depois, ao findar uma década onde o samba e outros estilos considerados regionais foram deixados de lado, viu-se o retorno gradativo do gênero às rádios e TV, coincidentemente através das vozes femininas. Encabeçado no primeiro momento por Marisa Monte, que abarcou em seu repertório canções de grandes mestres como Candeia e Paulinho da Viola, o samba ganhou vigor na virada do século, quando uma nova cena surgiu na região boêmia e então decadente da Lapa. Sua principal artista, Teresa Cristina, acabou por encarnar, mesmo à sua revelia, este renascimento, tendo seu nome até hoje associado ao samba e ao bairro da Lapa. De origem humilde, criada no subúrbio carioca da Vila da Penha, Teresa começou a cantar tardiamente, aos 30 anos, tendo antes trabalhado como manicure, vendedora e secretária. Apresentou-se exaustivamente durante anos em bares como Semente, Carioca da Gema e Centro Cultural Carioca, até que, em 2002, gravou, acompanhada do Grupo Semente, seu primeiro disco, o duplo “A música de Paulinho da Viola” (Deckdisc). Com ele, ganhou os prêmios TIM de Música como “Cantora Revelação” e o Rival BR, além de ser indicada ao Grammy Latino de “Melhor Disco de Samba”. Dois anos mais tarde, foi a vez de lançar-se também como compositora no álbum “A Vida me Fez Assim” (Deckdisc). Em 2005, dedicou-se ao primeiro CD e DVD ao vivo, “O Mundo é meu Lugar” (Deckdisc), gravado no Teatro Municipal de Niterói. Dois anos depois, Teresa lançou “Delicada” (EMI), onde já dava sinais de certa inquietação artística ao gravar “Gema”, de Caetano Veloso. Em 2010, acentuou esta faceta, ao promover seu segundo CD e DVD ao vivo, “Melhor Assim” (EMI), onde cantou composições de autores até então não associados ao seu universo musical, como Lula Queiroga, Edu Lobo, Chico Buarque, Adriana Calcanhotto, Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Nesta mesma época, passou a estreitar laços com a nova geração da MPB, fazendo parceira com Karina Buhr, apresentando-se ao lado da banda Os Outros e, mais recentemente, iniciando um diálogo com Romulo Fróes, Kiko Dinucci e Juçara Marçal.
Ainda que pouco ou nada se fale da relevância do samba da Lapa na construção do  cenário musical brasileiro contemporâneo, o Banda Desenhada viu em Teresa Cristina uma excelente oportunidade de agregar um novo olhar neste mapeamento que vem fazendo ao longo deste um ano e meio de existência. Assim, convidamos a cantora para esta entrevista, realizada no estúdio da Deckdisc, na Barra da Tijuca, em meio às gravações de seu novo álbum, em que canta sucessos de Roberto Carlos acompanhada da banda Os Outros. Teresa, de forma genuína e apaixonada, nos falou de sua carreira, do samba e da sua relação com os  artistas da neoMPB.

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e o tempo canta

fotos: daryan dornelles

Rio de Janeiro, década de 90. Um cenário bastante favorável à produção musical na cidade fez surgir bandas como Cidade Negra, Planet Hemp, O Rappa, Sex Beatles, Mulheres Q Dizem Sim, Boato, Pedro Luís e a Parede, Acabou La Tequila e Los Hermanos. Diferentemente da geração que a precedeu, esta apontava para uma união entre diversos gêneros e a música brasileira que, na década seguinte, acabaria por influenciar uma nova safra de artistas. 
Formada em 1990 por Alvin L. (guitarra), Cris Braun (voz), Vicente Tardin (baixo), Marcelo Martins (bateria) e Ivan Mariz (guitarra), a banda Sex Beatles chegou a lançar dois álbuns: “Automobilia” (1994) e “Mondo Passionale” (1995). Em 1997, a gaúcha Cris Braun fez o debut de seu primeiro álbum solo, “Cuidado Com Pessoas Como Eu”, lançado pelo selo Fullgás, de Marina Lima. Sete anos depois, trilhando o caminho da independência, gravou seu segundo disco, “Atemporal”, desta vez pelo selo Psicotrônica. Morando há seis anos em Maceió (AL), Cris lançou em 2012 seu mais recente trabalho, “Fábula”, gravado entre idas e vindas da capital alagoana ao Rio. 
Figura importante da geração 90, ao longo dos anos, Cris Braun construiu uma carreira bastante peculiar, respeitando, acima de tudo, o seu tempo. Sabendo de seu envolvimento com diversos nomes da produção musical contemporânea brasileira, o Banda Desenhada aproveitou uma de suas vindas para o Rio e a convidou para esta entrevista. Após a sessão de fotos, Cris conversou conosco no estúdio Fotonauta a respeito dos Sex Beatles, a produção independente, a sua passagem pela indústria fonográfica e o processo criativo.

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