os meninos que abriram a porta das feras

garotas suecas (da esquerda para direita): guilherme saldanha, irina bertolucci, tomaz paoliello, antonio paolliello, matheus prado, fernando freire | fotos: daryan dornelles

E depois da bossa nova, a tropicália. Muito mais do que uma natural linha cronológica, desde os anos 90, vem se observando uma crescente mudança de foco por parte de artistas e mídias globais em relação à música brasileira. Inúmeros discos – com ênfase na cena musical dos anos 60 e 70 - foram redescobertos e ganharam novo status entre jornalistas, críticos e público do mercado alternativo mundial. Mesmo que estes não tenham a ampla compreensão das questões e conflitos estéticos propostos pelo movimento tropicalista, é certo o encantamento que a sonoridade exerce, minimamente identificável graças às referências à cultura pop e ao rock inglês. Além disto, a tropicália conseguiu manter ao longo de anos sua contemporaneidade e vigor, sublinhando um sincretismo musical que se tornou seu principal baluarte e alimento para uma cultura globalizada  exausta de seus tradicionais eixos de produção. Assim, na busca de um novo manancial, viu-se, entre outros fatos, a redescoberta de Tom Zé por David Bryne; o retorno do grupo Mutantes; a alardeada influência da tropicália nos trabalhos de artistas internacionais, como Beck e Devendra Banhart; o lançamento do álbum “Red Hot + Rio 2”, onde dezenas artistas de diversos países se debruçaram sobre o legado tropicalista; e, em 2012, a gravação de um álbum tributo aos 70 anos de Caetano Veloso, onde nomes da música nacional e internacional renderam-lhe homenagem. 
Paralelamente a este momento de redescoberta, surgiu no atual cenário musical brasileiro uma forte cena independente cujos artistas trazem a tropicália como uma de suas principais  influências. Entretanto, mesmo de inegável importância para a cultura brasileira, o movimento tropicalista deixou como legado uma questão indecifrável para as gerações posteriores: como suplantar os seus cânones e os da antropofagia modernista se estes ainda se mostram tão pertinentes? Um trabalho no mínimo hercúleo para os novos artistas que buscam identidade e uma posição de vanguarda na música popular.
É sobre este e outros temas espinhosos que conversamos esta semana com a banda paulistana Garotas Suecas. Criado em 2005, o grupo vem se destacando por desenvolver uma carreira internacional, realizando turnês e participando de diversos festivais alternativos nos Estados Unidos e na Europa, como South by Southwest, Bumbershoot, Primavera Sound e Pirineos Sur. Com a sua mistura bem azeitada de rock, funk e tropicalismo, a banda recebeu elogios de jornalistas do New York Times, Washington Post, Chicago Reader, National Public Radio e Spin Magazine. Após quatro EPs (“Dinossauros”, de 2009; “Hey Hey Hey”, “São os Garotas Suecas!”, de 2006; e “Difícil de Domar”, 2008), a banda lançou seu primeiro disco, “Escaldante Banda” (2010), pelo selo californiano American Dust, sendo pouco depois lançado no Brasil de forma independente e disponibilizado para download no site da banda. Em 2011, o álbum ganhou nova edição, desta vez pelo selo espanhol Vampi Soul. Vencedor do prêmio “Aposta MTV”, em 2008, o Garotas Suecas teve seu álbum de estreia figurando em diversas listas de melhores discos nacionais de 2010, além de ser indicado ao 7º Prêmio Bravo de Música, na categoria “Melhor CD Popular”; e a “Melhor Capa de Disco” e “Clipe do Ano” no VMB 2011. 
A banda, composta por Guilherme Saldanha (vocais), Tomaz Paoliello (guitarra), Irina Bertolucci (teclado), Nico Paoliello (bateria), Fernando Freire (baixo) e Matheus Prado (percussão), aproveitou sua passagem pelo Rio de Janeiro, onde se apresentou no Studio RJ, para nos dar esta entrevista, que ocorreu no terraço de um antigo shopping em Copacabana.

BD – Vocês são uma das bandas desta geração que mais flertam com o pop rock. Como se sentem ao serem classificados com este termo? 

Tomaz Paoliello – A sonoridade pop reflete o nosso gosto pessoal. Talvez esta seja uma das características da cena de hoje: o pop como fruto de uma escolha e não uma imposição mercadológica. Não tivemos um produtor que nos obrigou a sermos pop. O nosso som é resultado dos nossos interesses, das coisas que escutamos. A gente curte muito as referências pop da nossa juventude. Nós as relembramos sempre, ouvindo os discos dos Paralamas, do Skank...

Irina Bertolucci – Do Lulu Santos! A gente não tem preconceito com o pop, principalmente em relação à sua sonoridade. Na nossa infância e adolescência, a música era vista principalmente como um produto a ser vendido, mas o pop brasileiro dessa época, dos anos 80 e 90, era feito por bandas que realmente curtiam o que tocavam, não faziam aquilo só pra vender. Era a vibe daquele momento. E a gente traz isso para o nosso som. Não somos uma banda que pesquisa ritmos tradicionais. Então, a nossa brasilidade vem muito daí, do pop brasileiro, que já se tornou uma faceta muito importante da música popular e que vem se fortalecendo nos últimos anos.


BD – O interessante é que essa sonoridade de vocês, há algumas décadas, atrairia grandes gravadoras. Como é isto? Ser pop e independente?

Tomaz Paoliello – Já tivemos propostas. 

Guilherme Saldanha  –  E já pensamos muito nisso.

Tomaz Paoliello – É. Teve uma época em que pensamos que esse poderia ser o caminho, mas acabamos escolhendo este outro, o da independência. Independência não só por não termos uma gravadora, mas independência no sentido criativo também. E se um dia não quisermos mais fazer este tipo de som? As novas músicas em que estamos trabalhando  são muito diferentes das do nosso primeiro disco. E temos independência total para fazer isto. E se não lançarmos o novo disco pelo selo que lançamos da outra vez, nós vamos buscar outros meios. Temos esta possibilidade. 

BD – Mas lançar um álbum, buscar parceiros e divulgar o trabalho de forma independente ainda é um pouco complicado não?

Irina Bertolucci – Com certeza dá mais trabalho. Porque precisamos dar conta de várias etapas, do processo de distribuição, de divulgação...  Mas, por outro lado, nós controlamos tudo e isto é uma coisa muito legal. Temos hoje em dia uma visão, uma consciência, muito maior de como e por onde o nosso som circula. Coisa que talvez não soubéssemos se não fossemos independentes.  Dá mais trabalho, definitivamente, exige gastos, inclusive de energia, mas também por conta disso, conseguimos nos aproximar do público, dos fãs. E sinto que eles gostam muito disso. Sinto que várias coisas positivas vêm por conta de nossa independência. O que, tempos atrás, seria visto como algo ruim, que dificultaria o trabalho, hoje se tornou extremamente benéfico. 

Tomaz Paoliello – Nós gostamos de dominar o processo. Acho que também faz parte do nosso trabalho criativo nos envolvermos, por exemplo, com a arte do disco, com a forma como nos vestimos e nos apresentamos. Podemos escolher a mídia pela qual será lançado o disco [“Escaldante Banda” também foi lançado em vinil]. Todas estas questões fazem parte do nosso processo de criação.

Guilherme Saldanha – E a gente gosta. Acho que hoje seria muito difícil darmos este controle para outra pessoa. Por exemplo, para marcarmos uma turnê, falamos com a nossa produtora quais cidades a gente gostaria de tocar e, nós mesmos, agilizamos os contatos. Aprendemos a gostar disto. No início porque não havia opção e hoje porque também achamos legal estar por trás do nosso trabalho, pensando nestas coisas. 

BD – Vocês fazem sucesso no exterior cantando música pop em português e com forte brasilidade, o que a principio deveria causar estranhamento ou certo distanciamento do público, diferentemente do Cansei de Ser Sexy, que possui uma sonoridade mais global. Como conseguiram isto?

Guilherme Saldanha – No começo comparavam bastante a gente com o Cansei. Mas os lugares em que eles transitam são bem diferentes dos nossos. O Cansei é uma banda hype, a sua base é a Inglaterra, a nossa é os Estados Unidos. Isso já mostra um pouco as nossas diferenças. O nosso público é composto em sua grande maioria por pessoas que curtem música brasileira...

Irina Bertolucci – Rock de garagem...

Guilherme Saldanha – Mutantes...

Irina Bertolucci – Mas já passamos por alguns empecilhos por conta de nossa opção. Íamos lançar um clipe com exclusividade em um site de música lá de fora, mas eles nos disseram: “A Garotas Suecas não tem o nosso perfil”. Porque eles trabalhavam com bandas do tipo Cansei de Ser Sexy, entende? Bandas com um som moderno, que, mesmo sendo brasileiras, cantam em inglês e todos conseguem entender. E nós não falamos a língua de todo mundo, inclusive esteticamente. Mas, ainda assim, o nosso disco chegou a muitos lugares. Pouquíssimas foram as pessoas que estranharam sermos uma banda brasileira que não toca samba. 

Tomaz Paoliello – Frequentamos um circuito onde o público principal é composto de fãs de música brasileira dos anos 60, tropicália e colecionadores de discos brasileiros. E é surreal! Tem diversas festas lá fora que só tocam música brasileira... Fizemos uma apresentação em Nova York em que no meio da discotecagem tocaram “Eu sou da América do Sul/Eu sei, vocês não vão saber/ Mas agora sou cowboy...” [“Para Lennon e McCartney”, Lô Borges, Márcio Borges e Fernando Brant]! Naquele momento todo o conceito da letra se inverteu!

Guilherme Saldanha – Estava hoje procurando um compacto do Emílio Santiago que vi na Espanha e que só um dj de lá tem! Em uma festa que a gente tocou.

Tomaz Paoliello – Sinto que o que fascina as pessoas lá de fora é essa mistura de sons locais com o rock e a música pop americana. Acho que acabamos nos dando bem por conta disso.


BD – É interessante porque todos tem a intenção de conquistar um mercado mais amplo, mesmo que fazendo pequenas concessões, como gravar algumas músicas em inglês. Mas no caso de vocês foi bem diferente e, o que mais me espanta, é que mesmo outros importantes nomes da neoMPB não possuem uma extensa agenda de shows no exterior como vocês.

Fernando Freire – Quando fomos para lá pela primeira vez, nem disco tínhamos. Ainda estávamos em um estágio embrionário. 

Guilherme Saldanha – O Sessa [ex-guitarrista da banda, se mudou para Nova York em 2007], que já morava por lá, nos chamou para visitá-lo e fazer uns shows. Fomos de férias mesmo, pagamos tudo do nosso bolso, e marcamos seis shows. A partir daí, as coisas foram se desdobrando, a nossa produtora americana abraçou o nosso som e passou a marcar mais turnês: uma, duas, três... saímos na imprensa e agora estamos marcando nossa sexta turnê.

Irina Bertolucci – A sexta turnê nos Estados Unidos e a segunda na Europa.

Guilherme Saldanha – Começou bem assim, tocando em uns inferninhos de Nova York mesmo, depois fazendo turnês pequenas e, a partir daí, aumentando, passando a excursionar pelo país inteiro e a participar dos festivais...

Tomaz Paoliello – A primeira vez foi uma aposta total. Na segunda vez já havia um esquema e conseguimos criar uma estrutura. 

Irina Bertolucci – A primeira turnê foi de 15 dias em baixo da neve no nordeste dos Estados Unidos! Se conseguimos sobreviver àquilo, podemos sobreviver a qualquer coisa, meu! A qualquer tranco! [Risos]. Na segunda vez, a turnê já havia sido marcada previamente, tocamos no SXSW [South by Southwest]  e em alguns festivais menores.

Tomaz Paoliello – E agora temos convites para tocar em grandes festivais, inclusive na Espanha. É engraçado, porque a repercussão do nosso trabalho no exterior se dá quando justamente não estamos mais por lá. As nossas músicas, as apresentações, ficam reverberando e realmente não temos controle sobre isso. Vamos para lá, fazemos imprensa, lançamos o disco, nos apresentamos e, sei lá, uns seis meses depois, vem um novo convite para ir a um festival!

Irina Bertolucci – A gente teve sorte nos Estados Unidos de conhecer pessoas que estão por dentro da cena. A nossa produtora trabalha com muitas bandas que circulam e que não param de fazer turnês. Foi muito legal ter conhecido ela. A Michelle nos botou na estrada por quanto tempo aguentássemos: “Quantos dias vocês tem? 15, 20, 40 dias?”. Em nossa última turnê, fizemos mais de vinte e tantos shows durante quarenta dias! Foi uma loucura! No final estávamos em pedaços. [Risos]. Optamos por fazer o lançamento do disco por todos os Estados Unidos e ela topou: “Então vamos, cara”! E marcou! A Michelle apostou muito no nosso sonho e mandou ver. Mandou a gente pra estrada sem dó! [Risos]

Tomaz Paoliello – E virou amiga nossa. A gente tem uma relação muito próxima com ela.


BD – É um pouco lugar comum o que vou falar, mas boa parte dos artistas afirma que fazer sucesso lá fora acaba repercutindo muito positivamente para o desenvolvimento de suas carreiras por aqui. Vocês acham isso?

Irina Bertolucci – Sim! Até parece que fizemos 100 shows lá fora! [Risos]

Tomaz Paoliello – Potencializa realmente. Mas as pessoas idealizam muito a cena lá de fora. E nós também idealizávamos! [Risos]. Claro que ela tem muito mais estrutura, as coisas funcionam. Sair no New York Times, na Spin Magazine foi algo importante e, quando voltamos, pudemos utilizar este material para divulgação do nosso trabalho por aqui.

Guilherme Saldanha – Fazer estas turnês pelo exterior é muito bom. Porque aqui no Brasil não dá para ficar tocando direto. Tem muitas bandas que estão por aí e não conseguem lugar para tocar, sabe? A banda grava, faz um show aqui, um programa de TV ali e só! Então, estamos tentando criar a nossa história e dando material para as pessoas falarem.

Irina Bertolucci – E tanto o público quanto a mídia nos Estados Unidos tem algo de muito positivo que é valorização da performance do artista. Eles podem ouvir o seu disco e até gostar, mas se forem ao seu show e for mais ou menos, vai ser um baque! Aqui no Brasil fala-se muito e as pessoas não vão tanto aos shows. Escutam mais falar dos shows do que vão. As bandas não circulam tanto. Acredito que o que fez termos esta visibilidade foi isso, sermos reconhecidos pelo puta show que fazemos e não por uma puta verba! Cara, é um show, você vai chegar lá e se divertir! É isso que a gente tem pra te dar! Fazer você ir para outro mundo... E lá fora o pessoal valoriza muito isso.

Fernando Freire – E hoje, por conta do mercado, isto é mais importante do que nunca. A maioria das pessoas baixa todas as músicas que ouve. O artista parou de vender disco. Ainda vende em shows, mas vive muito mais de suas apresentações. E se o show não for bom... [Risos]

Irina Bertolucci – O que mais me dá alegria é quando elogiam a nossa apresentação. Não que uma boa critica sobre o nosso disco não seja importante, mas, para mim, o elogio ao nosso show é muito especial. Ainda mais vindo de uma gringa que não entende nada do que a gente está cantando! É muito louco! [Risos].



BD – Vocês falaram anteriormente dos Mutantes... É fato que quase todos da geração de vocês têm influência do Tropicalismo. É possível fazer música hoje em dia sem pensar nele? 

Tomaz Paoliello – Cara, se você começar a pesquisar, vai perceber que existiram diversos movimentos similares nesse mesmo período.  Na Turquia, na França, no Peru, no Caribe, em Angola, na Nigéria, em Gana... A fusão do rock e da música pop com gêneros tradicionais de cada região. No nosso caso, a sombra ou a luz que o tropicalismo nos dá é por conta das nossas referências brasileiras. 

Irina Bertolucci – A questão antropofágica, o sincretismo musical... O tropicalismo pegou um gênero estrangeiro, que é o rock, e, ao tentar entende-lo, o transformou em algo essencialmente brasileiro. Os tropicalistas fizeram isso de um modo mais criativo do que outros artistas que vieram depois, que fizeram uma tradução mais literal do rock. Acho que nós temos algumas semelhanças com o tropicalismo por temos essa vontade, de fazer um som que não tenha uma referência tão clara, não pegamos um artista ou um movimento e copiamos. Trazemos outras referências que escutamos e fazemos do nosso jeito. 

Tomaz Paoliello – A decodificação que o tropicalismo fez da música pop para a linguagem musical brasileira é uma coisa impressionante. É um marco. E toda música que foi feita depois é um pouco reflexo disto... 

Fernando Freire –  Mas o tropicalismo deixa muita coisa de fora, principalmente o que veio depois, o punk, toda a cena de rock 90’s... O tropicalismo não consegue dialogar com tudo isso e talvez devêssemos prestar mais atenção nestas questões.

Antonio Paoliello – Quando se ouve uma música brasileira hoje em dia, a maior referência das pessoas normalmente é a tropicália. Qualquer som mais abrasileirado que você faça acaba ganhando esse rótulo.

Tomaz Paoliello – Lá fora, né?

Antonio Paoliello – Aqui no Brasil também! Quando na verdade você pode estar pensando em outras referências, sei lá, num forró pé de serra! Só que a maioria das pessoas vai pensar na tropicália como referência principal. Não que isso seja um problema, porque o tropicalismo foi realmente um movimento incrível, mas não pode ser só isso.

Irina Bertolucci – Temos que ter cuidado para não vivermos na sombra do tropicalismo e ficarmos sempre com esta referência, sem nunca conseguir transpô-la. Parece que todas as bandas que estão se dando bem atualmente tem que estar de alguma maneira dialogando com o tropicalismo. E isso não pode ser uma verdade! Porque senão a gente está frito, entendeu? A gente não vai nunca sair do lugar. Por outro lado o tropicalismo é uma referência muito positiva. Mas não podemos usá-lo como um cânone. As pessoas estavam quebrando com tudo naquela época, botando guitarra no samba, cantando rock em português e falando de macumba! Era transgressor, mas acabou virando um cânone. E daí, se você fizer qualquer coisa que remeta ao que os tropicalistas fizeram, mencionaram ou citaram, acaba  sendo rotulado. Isso é musicalmente muito limitante. 

Tomaz Paoliello – Indo um pouco mais além, acredito que muitos artistas tentam retomar este período porque hoje em dia já não há mais aquela mágica, de criar um produto intelectualmente instigante e ao mesmo tempo popular. É óbvio que todo mundo quer ter acesso a essa poção mágica! [Risos].


BD – Outro problema dessa geração atual é a incapacidade de classificar o som, fica complicado dizer que vocês são apenas rock ou apenas MPB...

Tomaz Paoliello – A gente não se preocupa muito com isso. 

Irina Bertolucci – Bem, nós somos brasileiros, fazemos música e esperamos que ela seja popular! [Risos].

Guilherme Saldanha – Se bem que já falaram que o nosso som é eletrônico...

Irina Bertolucci – Mas não acho que podemos ser rotulados de MPB. Com certeza as coisas estão mais misturadas. Tem muito artista da MPB fazendo shows em casa de rock e vice-versa. Os públicos conversam. E o nosso som é mutante, então acho que nunca alguém irá nos definir exatamente. [Risos].

Fernando Freire – Mas acho que nos shows fica muito claro o nosso ponto de partida, que são as bandas de garagem norte-americanas da década de 60. 

Irina Bertolucci – Temos um vocal forte, cru, com uma guitarra pegada, uma bateria pegada. A gente usa vassourinha em meia música! [Risos].

Fernando Freire –  Em zero música! [Risos].

Tomaz Paoliello – Mas acho que essa dúvida que geramos em você e em outras pessoas é boa, é positiva. E é fruto das nossas cabeças que transitam nesses dois mundos, a MPB e o rock. 

Fernando Freire –  Não escutamos apenas rock dos anos 60 ou funk.

Irina Bertolucci – Se você conseguir ouvir nossa música e perceber influências de MC5, Gal Costa e Roberto Carlos, será um começo, mas... Chegaram a dizer que fazíamos jovem guarda! Mas, cara, aonde é que você está ouvindo jovem guarda aqui?! [Risos].

Fernando Freire – Tinha gente que falava que o nosso som era meio Jorge Ben...

Tomaz Paoliello – E a gente escuta tudo isso! 

Antonio Paoliello – Então eles não estão completamente errados! [Gargalhadas]

Tomaz Paoliello – Mas o nosso som não é tão óbvio assim. Não partimos de um rótulo para fazer o nossa música.

Antonio Paoliello – Não pensamos no nome do som que iremos fazer.

Irina Bertolucci – Ou em que gôndola de lojas de discos o nosso som irá ficar. [Risos]

Tomaz Paoliello – Se quiserem colocar uma prateleira só pra gente, tá bacana. Gênero: Garotas Suecas! [Risos].


BD – E o próximo álbum? Está previsto para este ano, não é? Como ele será?

Guilherme Saldanha –  Está tudo em aberto! [Risos].

Irina Bertolucci – A gente pretende disponibilizá-lo para download. Não sabemos como, mas queremos lançar em vinil, como o anterior. 

Fernando Freire –  Acho que temos pegado umas influências mais contemporâneas. Deixamos um pouco de lado as referências das décadas de 60 e 70. Mas ainda temos um pouco disso. 

BD – O repertório já está todo pronto?

Irina Bertolucci – Já.

Tomaz Paoliello – Estamos trabalhando as músicas para fazer o disco. Devemos lançar no início de 2013, primeiro no Brasil. O anterior, lançamos primeiro nos Estados Unidos. E, por mais contraditório que possa parecer neste momento, estamos trabalhando em algumas músicas em inglês. É um pouco bizarro, porque, recentemente, crescemos muito por aqui. Temos feito muito mais shows no Brasil. Mas algumas dessas músicas são fruto de nossas viagens pelos Estados Unidos.

Fernando Freire – Você começa a pensar em inglês, sonhar em inglês... 

Tomaz Paoliello – Mas o repertório novo já está por aí, já estamos colocando nos shows algumas músicas. Só que no disco, obviamente, elas acabam sendo produzidas e gravadas de uma forma bem diferente do show.  Na verdade, imaginamos as músicas em dois momentos: durante a gravação do disco e nas apresentações. Não nos preocupamos em sermos fiéis ao álbum, em emular a sonoridade original. O show é uma outra vibe. Mas, de qualquer forma, quem for aos shows já ouvirá as músicas novas.


BD – E como o disco será disponibilizado?

Tomaz Paoliello – O nosso último disco lançado aqui no Brasil foi financiado com as verbas que conseguimos com o lançamento no exterior, através dos nossos selos nos Estados Unidos e na Espanha. Por conta deles, pudemos disponibilizar o álbum para download gratuito aqui no Brasil. Queremos fazer de novo, porque achamos isto importante, mesmo não dando um retorno financeiro imediato.

Irina Bertolucci – O nosso disco foi lançado por um selo que cobre os Estados Unidos e o Canadá e por outro selo europeu.  No Brasil, ele foi lançado de forma totalmente independente.  Fizemos uma prensagem brasileira do disco, sabe? Nós só vamos deixar de ser independentes se conseguirmos um esquema bem próximo ao que a gente já tem, que respeite o modo como lidamos com as coisas, que permita disponibilizarmos o álbum para download e que possamos tomar decisões referentes a todas as etapas de produção e divulgação. Mas estamos sempre procurando pessoas que de fato acreditem em nosso projeto. Porque ele está dando certo e, principalmente, porque acreditamos muito nele.

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