café e sinceridade quentes

fotos: daryan dornelles

Romulo Fróes já havia cantado a pedra: “Existe uma cena que começa no disco do Mulheres Q Dizem Sim e que tem no Los Hermanos a sua maior expressão”. O disco da banda carioca, lançado pela Warner em 1994, não chegou a causar grande repercussão, mas tratava-se de um dos trabalhos mais criativos do cenário musical brasileiro daquele momento. Com forte acento pop rock, herdada da geração 80, as bandas surgidas na década de 1990 empregavam em seus trabalhos os mais diversos gêneros musicais como maracatu, baião, forró, rap, punk, reggae, funk e música eletrônica. Assim, destacaram-se bandas como Skank, Pato Fu, Raimundos, Mulheres Q Dizem Sim, Acabou La Tequila, Planet Hemp, O Rappa, Gangrena Gasosa, Catapulta, Professor Antena e, claro, Chico Science e Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, Mestre Ambrósio e todo o restante da cena manguebeat. Mesmo que em alguns destes casos ainda fosse possível ver claramente a linhagem rocker, em outros, a música popular e a regional estavam tão impregnadas que tornava-se impossível classificá-los em algum gênero específico. O mesmo também ocorreu nas fileiras da chamada MPB, com a aparição de artistas como Marisa Monte, Pedro Luís, Carlinhos Brow, Adriana Calcanhotto, Zeca Baleiro e Chico César, responsáveis por renovar o cenário musical e tornar mais tênues os limites entre os estilos. Entretanto, se a MPB não teve muitas dificuldades em ser acolhida pelas gravadoras da época, o rock nacional acabou sendo absorvido por pequenos selos – em sua maioria, apêndices das majors. Assim, com orçamentos e infraestrutura bem mais modestos, surgiram os selos Banguela (Warner), Chaos (Sony), Plug (BMG), Tinitus (Polygram) e o Rock It!. Mesmo que ainda de forma pouco emblemática, foi possível perceber o nascimento de uma leva de artistas que ansiavam por sua independência, seja no processo de criação, produção ou mesmo em aspectos mais burocráticos do trabalho. Estas características se tornaram, uma década depois, a principal bandeira levantada por uma nova geração de músicos que, inseridos na cena independente e sem grandes diálogos com as mídias tradicionais, iniciaram um novo período da música popular brasileira.  
Oriundo do cenário musical dos anos 90, o músico Domenico Lancellotti é figura primordial no que se convencionou chamar de nova MPB. Filho do compositor Ivor Lancellotti, Domenico inicou sua carreira, ainda adolescente, como baterista do grupo Quarteto em Cy. Nos anos 90, uniu-se aos seus colegas de escola e criou a banda Mulheres Q Dizem Sim. Tempos depois, ao lado de Moreno Veloso e Alexandre Kassin, Domenico participou do cultuado projeto +2, responsável pelos álbuns “Máquina de Escrever Música”, de Moreno (2000); “Sincerely Hot”, de Domenico (2003); e “Futurismo”, de Kassin (2006). Nestes discos, o grupo acentuou seu flerte com a música eletrônica, o rock e a tradicional música brasileira. Ainda neste período, ao lado de seus amigos, formou em 2002 a Orquestra Imperial, a surreal e iconoclasta big band composta por quase duas dezenas de músicos, entre eles: Kassin, Pedro Sá, Rodrigo Amarante, Moreno Veloso, Nelson e Rubinho Jacobina, Nina Becker, Thalma de Freitas, Wilson das Neves, Berna Ceppas e Stephane San Juan. Em 2007, junto com Stephane e Dany Roland, lançou "Os Ritmistas" (Dubas), onde explorou a diversidade da percussão. Dois anos depois, ao lado de Pedro Sá, iniciou o projeto de improvisação "Vamos Estar Fazendo". Finalmente em 2011 lançou pela gravadora Coqueiro Verde o seu álbum solo “oficial”, o elogiado “Cine Privê”, contando com as participações de Adriana Calcanhotto, Jorge Mautner e alguns de seus colegas da Orquestra.
Extremamente ativo na atual produção musical brasileira, Domenico foi convidado para uma entrevista ao Banda Desenhada. O músico, mesmo com fortes dores na coluna e saído de uma emergencial sessão de acupuntura, foi bastante solícito e nos encontrou em um café no bairro do Leblon. Lá, nos contou a respeito de sua carreira, a forte ligação com o samba e expôs a sua opinião sobre uma série de outros assuntos.

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