assinado eu

fotos: daryan donelles


O carioca Daryan Dornelles é um dos mais importantes fotógrafos brasileiros da atualidade. Formado em cinema e jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e com mais de 16 anos de carreira, Dornelles é reconhecido por seus retratos que já estamparam as mais diversas publicações nacionais e internacionais: Placar, Marie Claire, Rolling Stone, Época, Bravo!, a inglesa World Soccer, Serafina, Tpm, etc. Ao lado de Edu Monteiro e Andrea Marques, tornou-se, há mais de dez anos, sócio do estúdio Fotonauta. Em 2007, ganhou o Prêmio Abril de Fotografia, por conta de um trabalho realizado para a revista Placar. Sua conhecida paixão pela música o levou também a fotografar diversas capas de CDs, como as de Teresa Cristina, Barão Vermelho e João Donato, além de se dedicar à produção de um livro de retratos de músicos do país.
Recentemente, Daryan acabou chamando a atenção do Banda Desenhada ao direcionar seu foco para a nova geração da MPB. Entramos então em contato com o artista que nos recebeu em seu estúdio, na Glória (RJ), para esta entrevista, onde falou a respeito de seu trabalho e a sua relação com a nova cena da música brasileira.

BD – Vários fotógrafos optam por se dedicar integralmente ao universo musical. Mesmo não sendo este o seu caso, é inegável que há em seu trabalho uma forte preferência por retratar músicos. Como e quando surgiu essa ideia?

Daryan Dornelles – Bom, eu tenho esta paixão desde moleque. Sou um consumidor de música até hoje, ainda compro vinil e CD. Estou sempre vidrado, querendo conhecer artistas novos. A profissão de fotógrafo acabou me permitindo fazer um link com isto tudo, estimulando ainda mais o meu interesse pela música.

marcelo camelo



BD – Como foi o seu primeiro trabalho nesta área? Na hora de fotografar, há diferença entre um músico e um ator, por exemplo?

Daryan Dornelles – O que faço basicamente no meu trabalho são retratos. Então, na hora do processo fotográfico não há muita diferença. Geralmente eu dou uma pesquisada antes, chego preparado e não demoro muito. São características minhas. Não fico uma hora fotografando. Pode acontecer, mas é raro. Aliás, um dos maiores elogios que me dão é: “Já acabou?”. [Risos]. O que me facilita muito ao trabalhar com um músico é que eu posso conhecer um pouco da sua personalidade através das suas canções. Não vou pedir pro Thiago Pethit dar um pulão tipo strike, né, cara? Isso acontece direto! Tem fotógrafos que pedem coisas absurdas. Conhecer a personalidade e a música do artista é fundamental pra qualquer um que está fotografando. Você me perguntou como foi meu primeiro trabalho com músicos, bom... Como fotógrafo, eu tinha dois sonhos: ter a capa da Placar e fotografar o Barão Vermelho.

BD – E conseguiu.

Daryan Dornelles – É, consegui. Eu era fascinado pelo Barão desde guri. Adorava. Foi uma coisa muito bacana, importante. E a partir daí fui caminhando, fiz mais gente, pessoas começaram a me conhecer e começaram a pedir fotos.

thalma de freitas


BD – E a quantas anda o livro que está produzindo?

Daryan Dornelles - Eu acho que todo fotógrafo sonha em ter um livro. Acho legal. Você junta uma época do seu trabalho e coloca naquele livro e vai. Quer dizer, no Brasil ninguém compra, mas você tem o livro, tem a coisa física, o trabalho está ali. E a minha ideia inicial sempre foi fazer um de retratos de músicos brasileiros. Embora tenha fotografado artistas estrangeiros, como a Karen O, do Yeah Yeah Yeahs, e Devendra [Banhart], em nenhum momento pensei em colocá-los no projeto. É um livro de retratos de músicos do país. Eu quero linkar as minhas duas paixões: a música e a fotografia. É o meu projeto pessoal. O livro não tem preconceito: tem Chico [Buarque], Caetano [Veloso], [Maria] Bethânia, Ney [Matogrosso], Tiê, Tulipa [Ruiz], Mr. Catra, Latino, Belo... É músico? Entra. Já teve pessoas que chegaram para mim e disseram: “Pô?! O Belo está no teu livro?” Porra! Depois você vê um 50 Cent... ele já esteve no tráfico tanto quanto, meu amigo! Estou vendo pela ótica musical e não pelo meu gosto.  Às vezes o personagem é muito mais interessante do que qualquer gosto pessoal. O Catra eu acho um puta personagem! Você não precisa gostar. Não vou falar que sou apaixonado por ele, porque não sou. A sua música não fica tocando no meu Ipod. Mas eu adoro a forma como ele lida com a sua carreira. Eu o acho um puta artista independente! Ele consegue ganhar dinheiro com isto. É do caralho! As pessoas têm que se espelhar no Catra. Então, o livro não tem preconceito com ninguém. É musico? De alguma maneira acho que vai render uma boa foto? Entra no livro. É claro que há também o meu gosto pessoal: Tulipa, Tiê, Caetano... Mas Caetano é um nome tão forte que, mesmo se eu não gostasse, ele entraria.

BD – O livro já tem data de lançamento?

Daryan Dornelles - Ainda não. É difícil, porque no Brasil tudo depende das leis de incentivo. Nenhuma editora vai bancar um livro de fotografia que, como todos os outros, não vai vender. Mas o projeto está indo bem.

tulipa ruiz




BD - Como foi o seu primeiro contato com esta nova geração da MPB? 

Daryan Dornelles - Meu primeiro contato foi com a Tiê. Dentro do processo de fazer o livro eu tinha muitos homens e não tantas mulheres quanto eu gostaria. Queria contrabalançar este peso. Acho que vi a Tiê no programa do Serginho Groisman. Achei a sua música interessante, era uma coisa nova em se tratando de MPB. Aquilo me chamou a atenção e a contatei através de e-mail. Aí mostrei meu trabalho, houve uma resposta e rolou a parceira. Fiz o seu novo disco e sempre que ela pede fotos de divulgação, estamos juntos. E isto se estendeu pra Tulipa também. Eu virei parceiro das duas. Então, primeiro veio a Tiê, depois a Mariana [Aydar] e, em sequência, a Tulipa. A Helô [a produtora Heloisa Aidar], me ajudou muito. As pessoas vão conhecendo meu trabalho e vão indicando. Por exemplo, a empresária do Lucas Santanna me viu fazendo a Márcia [Castro] e pediu fotos de divulgação. Pra mim é um prazer trabalhar com essa galera. Estar com o novo é muito legal. Gosto deles e da música que fazem. Acho muito bacana o Caetano procurar estar sempre com os novos. Quando eu fui fotografá-lo para a revista Bravo!, o disco que estava tocando era o do Leo Cavalcanti. Ele também adora a Tiê e a Maria Gadú. Essa aproximação com essa galera é formidável.

thigo pethit
BD - Por falar nisso, e o seu gosto musical?

Daryan Dornelles - Meu gosto musical é muito eclético. Puta que pariu! Minha banda preferida é AC/DC. [Risos]. Eu sou muito ligado ao rock, Led Zepellin, The Who... Mas também sou ligado à música brasileira. Sou aficionado em conhecer coisas novas, bandas e cantores novos. Mas hoje em dia o que temos nas gravadoras? DVD ao vivo! É chato pra cacete! O cara nem lançou o disco e já está com o DVD ao vivo! Acho que o próprio artista não gosta disto. Então aí você vê uma galera que se preocupa com o autoral. Eu vejo isso na Tiê, na Tulipa, na Mariana, no Lucas, nesse pessoal todo. Eles tem todo um cuidado em fazer um disco com um repertório autoral, sem a preocupação em ter uma gravadora. A Tiê agora está na Warner. Mas aconteceu, de uma maneira legal pra ela. Eu não vejo o Thiago Pethit preocupado, falando: “Eu preciso urgentemente de uma gravadora!”. Mas o vejo preocupado em ter um trabalho autoral. E isso é do caralho! Isso anima a mim, que adoro música. É o que eu procuro no artista: que ele me surpreenda com coisas novas. Isto é fundamental. E essa galera me surpreendeu positivamente. Acho "Mapa-Múndi" [canção de Thiago Pethit], uma das melhores músicas desta década! [Risos].

tiê


BD - Pra trabalhar, esta nova geração tem muita diferença das anteriores?

Daryan Dornelles - Geralmente, músico é gente boa. Desde Caetano aos novos. Fotografei o Caetano há algumas semanas e ele foi um amor de pessoa. Sempre é um amor de pessoa. Essa galera é bacana. Então, na hora em que o músico está ali sendo fotografado, divulgando seu trabalho, ele está disposto a cooperar. São pessoas tranquilas. O que eu acho é o seguinte, tanto na música quanto em qualquer outro setor, quando o cara é mala, ele já era mala antes. Faz parte da personalidade da pessoa. O mala não é mala porque ficou famoso, ela já era antes. Essa galera nova da música, então, é altamente disponível, ela quer mostrar o trabalho e, melhor, está entendendo como mostrar. Porque eu vejo as gravadoras um pouco perdidas. Em contrapartida, essa nova geração está começando a entender o processo de venda, de internet e de novos meios. Ela deseja falar sobre o trabalho e está encontrando meios alternativos para isso.

marisa monte

lucas santtana


iara rennó

mariana aydar

caetano veloso, banda cê e nina becker


arnaldo antunes



http://www.fotonauta.com.br/novosite/index.asp
http://www.flickr.com/photos/daryandornelles/

5 Responses to assinado eu

  1. Anônimo :

    Lindos os retratos do Daryan. E a entrevista também ficou muito bacana! Excelente, parabéns!

    Outro que eu gosto muito e que também tem uma relação com a música é o Leonardo Aversa. Aliás, a fotografia é uma forma genial de materializar um pouco essa coisa tão intangível que é a música, a criação sonora, a composição... assim como o desenho, a ilustração!
    Vida longa ao Banda Desenhada!
    André

  2. Muito boa a entrevista. O Dornelles tem uma coisa que falta hoje em quase tudo: bom senso. Bonito como ele busca, não um momento, mas o "ser em si" na foto. Uma coisa autêntica que para muitos é construída de forma hipócrita para tornar o artista "comum". A fala e o trabalho do rapaz nós dá uma crença de renovação desta indústria cultural das gravadoras comedoras de talentos.

  3. MAM :

    Uma das coisas mais bacanas nessa entrevista é vc mencionar o The Who...Isso me faz lembrar que o amigo aqui que lhe escreve te "enchia" o saco com "escuta The Who, porra!" rsrsrs abraços cumpadi!

comente